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Mudanças no tratamento antitrombótico


Dr. Ricardo Fontes Carvalho | Cardiologia

Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia, Espinho


Nos últimos anos assistimos a uma revolução no tratamento antitrombótico, sobretudo no tratamento da Fibrilação Auricular (FA). Esta mudança de paradigma culminou recentemente na publicação das novas guidelines europeias de abordagem da FA da Sociedade Europeia de Cardiologia.

Os principais alterações são:

  1. Reforço do nível de recomendação para se efetuar o “rastreio da FA”. É sabido que a FA é muitas vezes uma doença assintomática, sobretudo no idoso. Por isso, é reforçada a recomendação para o rastreio da FA através da avaliação do pulso nos indivíduos com mais de 65 anos. Se o pulso for arrítmico, recomenda-se a realização de um electrocardiograma para confirmação do diagnóstico. Esta é uma medida muito simples e que salva vidas.
  2. Novas recomendações sobre a hipocoagulação do doente com FA. A hipocoagulação é a principal medida que altera o prognóstico do doente com FA, diminuindo o risco de AVC e prolongando a vida do doente. O benefício clinico desta terapêutica é praticamente universal, com exceção dos doentes com um score CHADSVASC = 0.
  3. A aspirina não é uma opção de tratamento na fibrilação auricular. As atuais guidelines já não recomendam a utilização de aspirina em nenhum subgrupo de doentes com FA, uma vez que a sua eficácia é inferior à hipocoagulação mas os riscos são semelhantes.
  4. Reforço das recomendações para a utilização dos NOACs como terapêutica de primeira linha para a prevenção do AVC associado à FA. Os novos anticoagulantes (NOACs) começaram por ser uma terapêutica mais “confortável” para o médico e para o doente. Mais do que isto, nos ensaios clínicos demonstraram uma redução de cerca de 50% do risco de hemorragia intracraneana e uma redução da mortalidade total de 10% em relação à varfarina. Desta forma, as novas guidelines estabelecem uma recomendação de classe IA – ou seja, o mais forte nível de evidência – dizendo que na FA “um NOAC é recomendado preferencialmente a um antagonista da vitamina K”. Podemos assim concluir que, em 2017, o gold-standard da hipocoagulação na FA são os NOACs. As contra-indicações são: doentes com próteses mecânicas, estenose mitral reumática ou insuficiência renal crónica (clearance da creatina < 15 ml/min).