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Tratamento psicofarmacológico: antidepressivos e sintomas de descontinuação


Dr. João Paulo Rema | Psiquiatria

Hospital de Cascais, Alcabideche


O tratamento psicofarmacológico da depressão implica, segundo as guidelines mais actualizadas, o uso de fármacos antidepressivos durante vários meses. Atingido o tempo planeado de tratamento, a remissão sintomática e a recuperação funcional do doente, é fundamental alertar os doentes para os sintomas de descontinuação que podem experienciar durante a redução e retirada destes fármacos.

Os sintomas de descontinuação mais comuns com os antidepressivos são a tontura, insónia cefaleias, alterações sensoriais como disestesias e parestesias, sintomas gastrointestinais como náuseas e vómitos, irritabilidade, agitação/inquietude e sensação de instabilidade afectiva.

Estes sintomas surgem, habitualmente, nos primeiros dias após a omissão (por exemplo: esquecimento) ou cessação das tomas e remitem em duas semanas. A prevalência destes sintomas é muito variável (27 a 86%), bem como a sua duração e gravidade. Contudo, na maioria dos casos, apresentam carácter ligeiro, temporário, sem impacto no funcionamento habitual do doente e remitem sem necessidade de intervenção adicional. Uma pequena percentagem de doentes pode experienciar sintomas de descontinuação mais graves e prolongados, com duração de várias semanas ou meses. Nos casos graves, o antidepressivo poderá ser retomado e os sintomas cessam habitualmente em 24 horas. Os estudos mais recentes, sugerem que uma retirada mais lenta do fármaco (superior a 4 semanas) parece reduzir a frequência e intensidade dos sintomas de descontinuação, embora o perfil sintomático dependa do fármaco e doente em questão.

Os antidepressivos associados a sintomas de descontinuação mais frequentes e intensos são a paroxetina, duloxetina, venlafaxina e desvenlafaxina e antidepressivos com tempos de semivida mais curtos apresentam maior probabilidade de sintomas. Em contrapartida, a agomelatina e a vortioxetina apresentaram um risco menor destes sintomas. Doentes do sexo masculino (versus estudos mais antigos reportam maior risco nas mulheres), adolescentes, medicados com múltiplos psicofármacos e com uma duração de tratamento prolongado apresentaram maior risco de sintomas graves de descontinuação num estudo recente de 2022. Doses de antidepressivo próximas do limite superior do range terapêutico, história prévia de sintomas de descontinuação e perturbações aditivas comórbidas são outros factores que contribuem para o mais sintomas de descontinuação.

Informação sobre estes sintomas deve ser providenciada aos doentes e reforçado que os sintomas de descontinuação não correspondem a recaídas da depressão, evitando, desta forma, que o doente os associe ao regresso da doença.


Bibliografia e referências: