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Dislipidemia aterogénica: o que é, como diagnosticar e como abordar


Dr. Filipe Machado | Medicina Interna

Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga


Os fatores de risco vasculares (FRV) como a hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemia e a obesidade, são importantes contribuidores para a ocorrência de eventos cardiovasculares (CV). O diagnóstico atempado e o tratamento adequado dos múltiplos FRV, de acordo com os alvos preconizados nas respetivas recomendações internacionais, demonstraram ser indispensáveis para travar a morbimortalidade associada à progressão do continuum CV.

Ainda assim, em alguns subgrupos de doentes, apesar do tratamento dos diferentes FRV, com adequado controlo da pressão arterial, do colesterol de lipoproteínas de baixa densidade (LDL-c) e da glicemia, o risco de ocorrerem eventos CV pode persistir. A isto se designa como Risco CV Residual.

A dislipidemia aterogénica, considerada como um dos principais contribuidores para este Risco Residual, é mais frequente em doentes com insulinorresistência, nomeadamente com obesidade ou diabetes mellitus. Este subtipo de dislipidemia caracteriza-se por níveis elevados de triglicerídeos (>150-200 mg/dl), níveis baixos de colesterol de lipoproteinas de elevada densidade [HDL-c] (<40mg/dl nos homens e <50 nas mulheres) e partículas de LDL-c mais pequenas e densas. Desta forma percebe-se que, nestes casos, a avaliação do colesterol não-HDL (definido como a soma do LDL-c e dos remanescentes de colesterol, como o colesterol de partículas de muito baixa densidade [VLDL-C] e de densidade intermédia [IDL-C]) constitui um marcador de risco mais fidedigno que o LDL-c.

Relativamente ao tratamento, a par com as medidas não farmacológicas, este deve basear-se inicialmente na utilização de estatinas de alta intensidade, podendo ser associado ezetimiba e posteriormente outros fármacos, como os inibidores da pró-proteína convertase subtilisina quexina tipo 9 (iPCSK-9), de forma a alcançar as metas pretendidas de LDL-c, o nosso primeiro alvo terapêutico. Seguidamente, em doentes que apesar do controlo do LDL-c apresentem um perfil lipídico consistente com dislipidemia aterogénica, deverá ser associado o fenofibrato ao esquema terapêutico. De facto, ensaios clínicos aleatorizados com fibratos, como por exemplo o Action to Control Cardiovascular Risk in Diabetes (ACCORD- Lipid), efetuados em doentes com diabetes mellitus, apenas demonstraram benefício na utilização de fibratos (reduções de aproximadamente 30% nos eventos CV) nos doentes com caraterísticas de dislipidemia aterogénica.

Em conclusão, é essencial o conhecimento deste subtipo específico de dislipidemia, de forma a ser possível o seu diagnóstico e tratamento adequados, de forma a diminuirmos eficazmente o risco CV dos nossos doentes.


Bibliografia e referências: