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Importância do controle do perfil lipídico na prevenção cardiovascular


Dr. José Gonçalo Sarmento | Medicina Interna

Centro Hospitalar Entre Douro e Vouga, Santa Maria da Feira


As alterações do perfil lipídico estão associadas a um maior risco de sofrer eventos cardiovasculares, e quando falamos nestes eventos devemos ter em atenção não só o enfarte agudo do miocárdio, mas também doença arterial periférica ou a maior causa de morte cardiovascular em Portugal, o acidente vascular cerebral (AVC).

Estas alterações, sobretudo quando estamos na presença da dislipidemia aterogénica, ou seja as moléculas lipídicas que participam diretamente no desenvolvimento das placas de ateroma que corresponderão á aterosclerose, constituem um dos mais importantes fatores de risco cardiovascular, pelo que cabe a nós, clínicos, estarmos atentos a um controlo dos valores de LDL na população, tendo em conta que o nosso país tem observado um aumento deste tipo de eventos, sendo atualmente incluído pela Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) um dos países de risco moderado. Por isso urge atuar de forma a que os doentes estejam protegidos, por um lado atuando na prevenção primária, por outro na secundária, sempre com uma postura rigorosa e cientes que a literatura nos tem alertado para uma relação linear entre eventos cardiovasculares e o valor de LDL (Rosenson RS et al. Expert Opin Emerg Drugs).

Por outro lado a aterosclerose é um fenómeno esperado ao longo da vida, sobretudo em pessoas com carga genética associada á dislipidemia, sedentarismo, tabagismo e ainda pouco exercício físico, pelo que Fernández-Friera verificou numa metanalise publicada no Journal of American College of Cardiology que havia uma associação entre aterosclerose e valores de LDL acima de 60 mg/dl, levantando a importante questão de qual o verdadeiro nível de LDL em que os nossos doentes garantem por completo a ocorrência de um evento cardiovascular. É, portanto, fundamental que se realize nas consultas de rotina um screening adequado da dislipidemia, tendo em conta uma avaliação global do risco cardiovascular, considerando todos os fatores de risco, enquadrando assim o nosso doente nos alvos recomendados pelas sociedades de aterosclerose e cardiologia. Neste aspeto, existem de momento ferramentas práticas como o SCORE-2 e SCORE-OP, que nos pode estimar o risco cardiovascular do doente e disponível no site da Sociedade Europeia de Cardiologia. Após identificação dos doentes de alto e muito alto risco cardiovascular, além das medidas não farmacológicas (cuja importância é muitas vezes subestimada pelo tempo que temos disponível em consulta) como exercício físico e a aposta numa dieta mediterrânica, o rastreio de lesões órgão alvo e a pesquisa de outros fatores independentes associados a eventos cardiovasculares (como por exemplo a lipoproteína A e hiperuricemia) podem ajudar a escolher as melhores alternativa terapêuticas para que os nossos doentes se encontrem bem tratados.