Síndrome da ardência bucal
O papel das Unidades de Dor Crónica representa um “fim de linha”, de situações álgicas complexas, preferencialmente já diagnosticadas e estudadas e com algum percurso terapêutico. Durante a elaboração dos temas apresentados, houve a preocupação de alertar e explicar algumas situações clínicas de Dor Crónica, menos frequentes, mas igualmente importantes.
A DOR OROFACIAL, abordada em consulta multidisciplinar, com a colaboração da estomatologia, representa um desafio específico. Cefaleias não relacionadas com “Migraine”, nevralgia do trigémio, nevralgias de outros elementos nervosos da face, como por exemplo as pós traumáticas e as directamente relacionadas com tratamentos estomatológicos e ortodônticos.
A Síndrome da Ardência Bucal, por ser inespecífico e incurável, mereceu ser o tema desta apresentação.
Definição: Patologia crónica, debilitante, caracterizada por sensação de ardor e dor na mucosa oral, sem alterações macroscópicas e sem causa identificável, embora possa ser relacionada com tratamentos estomatológicos prévios.
Tipicamente, envolve a língua, com ou sem extensão aos lábios e mucosa oral e faz-se acompanhar por sensação subjectiva de xerostomia e alterações do paladar.
Prevalência: Pouco conhecida devido à escassez dos estudos epidemiológicos existentes.
Frequência: Afecta cinco vezes mais as mulheres que os homens (1), aumenta com a idade e agrava com alguns fármacos, como os antidepressivos.
Diagnóstico: Feito por exclusão de outras situações clínicas, não existindo critérios universalmente aceites, nomeadamente laboratoriais ou imagiológicos, que permitam confirmar ou excluir definitivamente a presença desta síndrome(2).
Terapêutica: Sendo uma síndrome de causa não especificamente conhecida, a terapêutica terá uma abordagem multidisciplinar, após uma valiação exaustiva do componente álgico/ neuropático.
O ponto principal passa pela explicação ao doente, da incurabilidade da situação, e pela importância de uma caminhada “degrau a degrau” em direcção ao alivio sintomático.
No contexto da caracterização neuropática, desta síndrome, e dependendo dos factores de agravamento e alívio das queixas, a abordagem será preventiva.
Ex: evitar alimentos demasiado quentes ou frios, ou estimulantes das papilas-salgados-picantes.
A terapêutica local é pouco eficaz e devem ser evitados os colutórios concentrados.
Em termos farmacológicos- os gabapentinóides podem resultar em algum alívio, e os antidepressivos, melhoram o quadro geral, se bem que o facto de provocarem xerostomia, possa levar ao seu uso com monitorização frequente.
Por fim, considera-se fundamental, o apoio psicológico, como forma à adaptação à sobrevivência com dor residual.
Bibliografia e referências: