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Tratamento da HBP/LUTS: mudança de paradigma


Dra. Vanessa Vilas-Boas | Urologia

Hospital de Vila Franca de Xira, Vila Franca de Xira


A Hiperplasia Benigna da Próstata (HBP) foi tradicionalmente culpada pelo desenvolvimento no homem de sintomas do tracto urinário inferior (LUTS, Lower Urinary Tract Symptoms).

Estes incómodos sintomas são classificados em três grupos consoante a altura do ciclo miccional na qual surgem: armazenamento (urgência, polaquiúria, noctúria...), esvaziamento (hesitação inicial, alterações do jacto, esforço miccional) e pós-miccionais (sensação de esvaziamento incompleto, gotejo pós-miccional).

A sua avaliação e tratamento é fundamental pela grande prevalência na população masculina e pelo impacto negativo que têm em aspectos que vão desde a qualidade do sono à actividade sexual.

A clássica relação de causa e efeito entre HBP/LUTS nem sempre está presente e homens com próstatas volumosas podem ser assintomáticos, assim como outros com volumes menores podem padecer de LUTS graves. Na verdade, outras características prostáticas além desta concorrem para a existência de obstrução infravesical, pelo que os LUTS não são exclusivos de HBP e podem surgir por outras doenças como prostatite e carcinoma da próstata, por patologias de outros orgâos genito-urinarios (infecção urinária, estenose da uretra...) e mesmo por condições que afectam o aparelho urinário mas que têm ponto de partida fora deste, como doenças neurológicas (AVC, Doença de Parkinson, esclerose múltipla).

Abordagem dos LUTS associados a HBP tem sofrido intensa evolução ao longo dos anos. Com o desenvolvimento de uma terapêutica farmacológica eficaz, a cirurgia deixou de ser a primeira opção e hoje está reservada para os doentes que não respondem adequadamente aos fármacos ou que têm factores de complicação da doença.

Dispomos actualmente de um conjunto de fármacos que actuam a diferentes níveis e que inclui os bloqueadores α-adrenérgicos, inibidores da 5α-redutase, anti-muscarínicos, agonistas β3-adrenergicos, inibidores da 5-fosfodiestare e análogo da vasopressina (desmopressina).

Aconselha-se iniciar o tratamento com um bloqueador α1-adrenérgico (tansulosina ou silodosina), o qual tem rápido inicio de acção com controle eficaz dos sintomas num elevado número de casos. A silodosina, sendo o mais urosselectivo, apresenta um perfil de efeitos adversos favorável.

É importante salientar que a terapêutica instituída deve ser guiada pelos sintomas predominantes do doente, o que implica a reavaliação regular da resposta terapêutica e a eventual necessidade de substituição ou complementação por outras substancias activas.

Assim, no caso dos pacientes com sintomas mistos de armazenamento e esvaziamento que não respondem satisfatoriamente à terapêutica com bloqueadores α1-adrenérgicos, poderá ser associado um anti-muscarínico ou agonista β3-adrenergico. Da mesma forma um doente com sintomas predominantes de noctúria poderá melhorar com a toma de desmopressina ao deitar.

Em súmula, o objectivo deverá ser o tratamento do doente e seus sintomas predominantes, não esquecendo a etiologia multifactorial de LUTS, o que obriga a uma investigação inicial cuidada e à reavaliação regular do doente.


Bibliografia e referências:

  1. Vilas-Boas, Vanessa. Tratamento da HBP/LUTS: mudança de paradigma. Jornal Médico. 2016 Outubro: 17