Como e quando iniciar insulinoterapia?
O início de insulinoterapia tem sido sempre uma altura de inércia clínica, onde tanto os médicos como os próprios doentes estão renitentes em iniciar esta terapêutica1,2,3. No entanto, esta tendência tem vindo a mudar com o aumento do número de formações e criação de equipas multidisciplinares que permitem uma maior facilidade no início desta terapêutica.
Segundo as normas EASD/ADA 20214 deve-se iniciar insulinoterapia em doentes com diabetes mellitus inaugurais com HbA1c superior a 10% e que tenham sintomas expoliativos (poliúria, polidipsia, emagrecimento). Estes sintomas revelam que o organismo está a atravessar uma fase de insulinopenia e por isso o tratamento de excelência será a insulinoterapia com ou sem antidiabéticos orais (ADO) associados. O facto de um doente iniciar insulinoterapia na altura do diagnóstico não quer dizer que necessitará de insulinoterapia para sempre. Por vezes, após a recuperação da descompensação, os doentes podem ficar bem controlados apenas com antidiabéticos orais.
Outra situação que também se alterou nas novas orientações4 foi o início de insulinoterapia. Actualmente as orientações ADA/EASD falam em terapêutica injectável (onde incluem os aGLP1 e insulina). Num doente que esteja a fazer antidiabéticos orais e que seja necessário melhorar o controlo metabólico, o primeiro fármaco a ser administrado deverá ser o aGLP1, em vez da insulina, pela sua elevada redução da HbA1c. Caso um doente já esteja a fazer insulina basal e seja necessário melhorar o seu controlo metabólico, antes de iniciar insulina rápida pré-prandial, deve-se iniciar aGLP1 pelo benefício no controlo da glicémia pós-prandial (pelos efeitos incretínicos e também pela redução do apetite) e também pelo benefício na perda de peso, que pode contrabalançar com o risco de aumento de peso por vezes verificado com o início de insulinoterapia4,5.
Com o aparecimento de novas classes terapêuticas pode haver tendência para atrasar o início da insulinoterapia, no entanto, as indicações e os benefícios são evidentes e por isso não devemos atrasar o seu início que vai permitir um melhor controlo metabólico e assim reduzir as complicações associadas à diabetes mellitus.
Bibliografia e referências:
- Jay Lin, Steve Zhou, Wenhui Wei, Chunshen Pan, Melissa Lingohr-Smith, Philip Levin . Does Clinical Inertia Vary by personalizes A1C goal? A study of predictors and prevalence of clinical inertia. 2016.
- González-Clemente JM, et al. Estudio INERCIA: inercia clínica en pacientes con diabetes mellitus tipo 2 no insulinizados en tratamiento con hipoglucemiantes orales. Un estudio en España, en atención primaria y especializada. Med Clin (Barc). 2013.
- Mata-Cases M, et al. Clinical inertia in the treatment of hyperglycemia in type 2 diabetes patients in primary care, Current Medical Research & Opinion, Vol 29, nº11, 2013, 1495-1502.
- American Diabetes Association, Standards of Medical Care 2021.
- AACE, Comprehensive Type 2 Diabetes Management Algorithm, 2020.