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Dislipidemia e eventos cardiovasculares: sensibilização dos doentes e tratamento


Dr. José Gonçalo Sarmento | Medicina Interna

Centro Hospitalar Entre Douro e Vouga, Santa Maria da Feira


A dislipidemia, muitas vezes referida como distúrbio lipídico ou perfil lipídico anormal, é uma condição médica caracterizada por níveis anormais de lípidos no sangue (colesterol e triglicéridos). Mas não podemos nem devemos reduzir a dislipidemia a uma mera alteração nas nossas análises de rotina, sem qualquer enquadramento nas comorbilidades dos nossos doentes. É por isso fundamental que haja uma sensibilização dos doentes para a aterosclerose, a maior complicação da dislipidemia, que de acordo com Yusuf et al numa metanálise do Lancet, é o maior fator de risco na doença aterosclerótica, que por sua vez, é a grande responsável dos eventos cardiovasculares, que são a maior causa de morte na Europa. Desde os primeiros ensaios clínicos na área da dislipidemia, tem-se verificado uma relação linear entre o valor de colesterol LDL (lipoproteínas de baixa densidade) e eventos cardiovasculares, pelo que ao longo dos últimos anos as várias sociedades científicas têm sido mais exigentes na determinação de alvos de valor LDL, sobretudo nos indivíduos que se enquadram nos doentes de alto e muito alto risco cardiovascular. Já em relação aos triglicéridos, não é consensual uma relação entre a hipertrigliceridemia e risco cardiovascular, pelo que a preocupação passa por prevenir complicações como a pancreatite aguda. As medidas de estilo de vida são essenciais na abordagem da dislipidemia, sobretudo combinando o exercício físico e a dieta mediterrânica, rica em gorduras saturadas, podendo conseguir reduções de LDL no valor de 30%, e no caso dos triglicéridos, descidas mais altas. A introdução de fármacos como as estatinas (gold standard), visa sobretudo doente de alto e muito alto risco, com alvos respetivos de 70 e 55 mg/dl, sendo que hoje na maioria dos casos, consegue-se desde o consultório através de estatinas de alta potência uma redução de LDL que poderá atingir 65%, pelo que apesar dos dados do registo europeu EUROASPIRE serem alarmantes no que concerne aos doentes de muito alto risco vascular que se encontram aquém do nível desejado de colesterol (cerca de 70%), os clínicos dispõem de ferramentas terapêuticas eficazes na maioria dos casos, acessíveis a nível dos cuidados primários.

Em relação à população idosa, sobretudo quando falamos de prevenção primária e acima dos 75 anos, a decisão de tratar prende-se obviamente com a condição clínica em que os nossos doentes se encontram, nomeadamente com a esperança médica de vida associada a certas patologias prevalentes como a demência, doenças oncológicas, ou outras altamente incapacitantes. No entanto, devemos ter em conta que 80% da mortalidade por doenças cardiovasculares se dão na população idosa, pelo que são a população que estatisticamente poderá beneficiar de estatinas, assim como no ezetimibe, onde sub-análises do IMPROVE-IT e do EWTOPIA, demonstraram um acrescido benefício deste fármaco no menor número de eventos cardiovasculares.


Bibliografia e referências:

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