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O uso de probióticos para prevenir doenças do trato genital feminino, mantendo o equilíbrio do microbioma vaginal


Dra. Maria João Carvalho | Ginecologia/Obstetrícia

Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra


Probiótico significa bactéria “boa”, originário da combinação de “pro” - para, “bios”- vida, nas civilizações greco-latinas. Reconhece-se assim que há microrganismos vivos que quando administrados em quantidades adequadas conferem benefício para a saúde do hospedeiro. Atualmente os constituintes mais frequentes dos probióticos incluem Lactobacillus, Bifidobacterium, Saccharomyces, Streptococcus, Enterococcus, Escherichia, and Bacillus. Os probióticos têm sido utilizados para evitar doenças do trato genital feminino, mantendo o equilíbrio do microbioma vaginal. As estirpes de Lactobacillus spp. atuam reduzindo o número de bactérias nocivas, mantêm o microambiente ácido e inibem a resposta imune1. O novo conceito de eixo intestino-vagina, renova a necessidade de conhecer mecanismos precisos dos probióticos. Assim, os probióticos restauram o microbioma vaginal em vaginose bacteriana e candidíase vulvovaginal. No entanto, os mecanismos a nível molecular e celular ainda permanecem por estabelecer.

Na vaginose bacteriana, ocorre uma diminuição significativa de lactobacilos produtores de ácido lático e sobrecrescimento de outras bactérias patogénicas, como Gardnerella spp., Atopobium spp., Prevotella spp. e Mobiluncus spp. O nível de pH aumenta consequentemente devido à menor produção de ácido lático. A barreira vaginal normal é destruída por meio de enzimas hidrolíticas e posteriormente ocorrem respostas imunológicas mediadas por quimiocinas e citocinas pró-inflamatórias (interleucina (IL)-6, IL-8, IL-1a, IL-1b, TNF-α)1.

A Candida spp. coloniza a vagina com Lactobacillus spp. O desenvolvimento de candidíase vulvovaginal é geralmente atribuído a um desequilíbrio entre a colonização vaginal e o ambiente do hospedeiro por alterações fisiológicas ou não fisiológicas. Dos vários fatores destaca-se gravidez, tratamento hormonal, diabetes descompensada, imunossupressão, antibióticos, uso de glicocorticoides e predisposições genéticas. O mecanismo pelo qual Candida spp. desencadeia inflamação permanece por esclarecer. A maioria dos estudos demonstraram que os lactobacilos exercem um efeito inibitório sobre o crescimento, transição morfológica, virulência e formação de biofilme da C. albicans. Os metabólitos de Lactobacillus spp., incluindo ácidos orgânicos, peróxido de hidrogênio, bacteriocinas e biossurfactantes contribuem para esses efeitos antifúngicos. Os lactobacilos também competem com a ligação de C. albicans às células hospedeiras, resultando em adesão reduzida à superfície das células epiteliais2,3.

Apesar da evidência de baixa qualidade, os probióticos como adjuvantes em comparação com tratamento convencional, podem aumentar a taxa de cura e diminuir a taxa de recorrência a curto prazo. São necessários mais estudos randomizados com metodologia adequada para determinar as implicações a longo prazo4.

Uma metanálise recente comprovou resultados semelhantes na modulação do microbioma na disbiose, considerando diferenças quantitativas. A administração de probióticos vaginais modulou o microbioma anormal em conjunto com o aumento na espécies de Lactobacillus5.

Na candidíase recorrente, a mistura de lactobacilos em combinação com lactoferrina mostrou ser uma abordagem adjuvante segura e eficaz para reduzir os sintomas e recorrências de candidíase vulvovaginal6.

No futuro, estudos com probióticos vaginais de última geração podem redirecionar o esforço para obter não apenas a modulação de biomarcadores microbianos, mas também melhorias da saúde reprodutiva na sua globalidade.


Bibliografia e referências:

  1. Han Y, Ren Q. ling, 2021. Does probiotics work for bacterial vaginosis and vulvovaginal candidiasis. Current Opinion in Pharmacology 61, 83–90.
  2. Fuochi V, Cardile V, Petronio Petronio G, Furneri PM, 2019. Biological properties and production of bacteriocins‐like‐inhibitory substances by Lactobacillus sp. strains from human vagina. Journal of Applied Microbiology 126, 1541–1550.
  3. Wang S, Wang Q, Yang E, Yan L, Li, T, Zhuang H, 2017. Antimicrobial Compounds Produced by Vaginal Lactobacillus crispatus Are Able to Strongly Inhibit Candida albicans Growth, Hyphal Formation and Regulate Virulence-related Gene Expressions. Frontiers in Microbiology 08.
  4. Xie HY, Feng D, Wei DM, Chen H, Mei L, Wang X, Fang F, 2013. Probiotics for vulvovaginal candidiasis in non-pregnant women. Cochrane Database of Systematic Reviews 2013.
  5. López-Moreno A, Aguilera M, 2021. Vaginal probiotics for reproductive health and related dysbiosis: Systematic review and meta-analysis. Journal of Clinical Medicine 10.
  6. Russo R, Superti F, Karadja E, De Seta F, 2019. Randomised clinical trial in women with Recurrent Vulvovaginal Candidiasis: Efficacy of probiotics and lactoferrin as maintenance treatment. Mycoses 62, 328–335.