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A importância de tratar a depressão quando já se considera a patologia que mais contribui para a incapacidade global de um individuo



A depressão, segundo a OMS, já é a patologia que mais contribui para a incapacidade global de um indivíduo1, segundo o cálculo do número de anos de vida perdidos por morte prematura (YLL) conjugada ao número de anos vividos com incapacidade (YLD) e anos de vida perdidos por morte ou incapacidade (DALY; DALY = YLL + YLD).

A existência de depressão representa numa pessoa, portanto, a condição clínica que provavelmente conduzirá a um maior prejuízo, em termos globais, na vida dessa pessoa. A começar pela perda de qualidade de vida2 até à diminuição da esperança média de vida3, com toda a repercussão negativa do ponto de vista pessoal, social, profissional e familiar que causa pelo caminho4.

Perante esta evidência bem estudada e documentada, continua a ser um infeliz paradoxo a falta de atenção que ainda se presta a este facto. Podemos entender esta negligência de vários pontos de vista. Até um passado recente existia a ideia de que a depressão era uma patologia “funcional”, ou seja, que seria um síndrome (conjunto de sintomas) que se instalava na vida de um indivíduo mas que não possuía origens e/ou repercussões objetivas ponto de vista orgânico. Esta perspetiva limitada constitui em si mesma uma contradição, dado todas as repercussões bem concretas e conhecidas da depressão nas múltiplas esferas de vida acima referidas, inclusive constituir um fator independente para o encurtamento do número de anos que se vive5.

No entanto, para um paradigma científico que tem por costume valorizar o que é visível e mensurável, e num sistema clínico crescentemente assente na dependência de exames complementares diagnósticos e marcadores fisiológicos entende-se (parcialmente) a razão pelo qual a depressão, estritamente diagnosticada por sintomas psicológicos e comportamentais, tem vindo a ser relegada para um patamar secundário. Atualmente este problema está, felizmente, a ter maior destaque do ponto de vista social e a ser encarado de forma mais séria dentro do meio médico. Adicionalmente, os dados respeitantes ao impacto económico da depressão6, sobretudo nas sociedades mais desenvolvidas, captou a atenção política e acelerou medidas e políticas em prol da saúde mental.

Outro contributo para se estar a encarar o problema da depressão com maior seriedade deriva de avanços da investigação, onde é crescente a publicação de evidências das repercussões fisiopatológicas que advêm de quadros depressivos. Entre outras, destacam-se alterações orgânicas (e mensuráveis) que afetam o cérebro do ponto de vista estrutural (por exemplo a constatação da perda de volume de áreas do hipocampo com a existência de depressão)7,8, a relação entre depressão e défices cognição9 e problemas noutros sistemas como o cardiovascular10. Estas evidências contribuem para a consolidação de que a depressão é um problema objectivo, relevante e que não pode ser ignorado.

Pode resumir-se esta problemática a uma questão de sensibilidade e educação. Sensibilidade para o impacto do grande problema sanitário do século XXI que é a depressão, e educação porque deve ficar para trás a ideia ultrapassada que este é um problema que não afeta o organismo e que as suas repercussões vão muito além do psicológico. Este é um problema bio-psico-social importante e representa uma das patologias que mais contribui para a incapacidade na vida de um indivíduo.


Bibliografia e referências:

  1. Campbell S, Macqueen G. The role of the hippocampus in the pathophysiology of major depression. J Psychiatry Neurosci. 2004;29(6):417-26.
  2. Marvel CL, Paradiso S. Cognitive and neurological impairment in mood disorders. The Psychiatric clinics of North America. 2004;27(1):19-viii.
  3. Organization WH. Depression and OtherCommon Mental DisordersGlobal Health Estimates.
  4. Sivertsen H, Bjørkløf GH, Engedal K, Selbæk G, Helvik AS. Depression and Quality of Life in Older Persons: A Review. Dement Geriatr Cogn Disord. 2015;40(5-6):311-39.
  5. Laursen TM, Musliner KL, Benros ME, Vestergaard M, Munk-Olsen T. Mortality and life expectancy in persons with severe unipolar depression. J Affect Disord. 2016;193:203-7.
  6. Mrazek DA, Hornberger JC, Altar CA, Degtiar I. A review of the clinical, economic, and societal burden of treatment-resistant depression: 1996-2013. Psychiatr Serv. 2014;65(8):977-87.
  7. Jia H, Zack MM, Thompson WW, Crosby AE, Gottesman II. Impact of depression on quality-adjusted life expectancy (QALE) directly as well as indirectly through suicide. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol. 2015;50(6):939-49.
  8. Sobocki P, Jönsson B, Angst J, RehnbergC. Cost of depression in Europe. J Ment Health Policy Econ. 2006;9(2):87-98.
  9. Elvsashagen T, Zuzarte P, Westlye LT, Boen E, Josefsen D, Boye B, et al. Dentate gyrus-cornu ammonis (CA) 4 volume is decreased and associated with depressive episodes and lipid peroxidation in bipolar II disorder: Longitudinal and cross-sectional analyses. Bipolar Disorders. 2016.
  10. Zuzarte P, Scola G, Duong A, Kostiw K, Figueira ML, Costa-Vitali A. NT-proBNP is a potential mediator between reduced ejection fraction and depression in patients with heart failure. Journal of Psychiatric Research. 2018;104:8-15