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Contraceção e Adolescência


Dra. Helena Veloso | Ginecologia/Obstetrícia

Centro Hospitalar e Universitário do Porto, Porto


Segundo a OMS, a adolescência é definida como o período entre os 10 e 19 anos de idade. Constitui um período de vida dinâmico com as características próprias da passagem entre a infância e a idade adulta, em que a maturidade física antecede na maioria dos casos a maturidade intelectual e psicossocial. É cada vez mais frequentemente nesta altura da vida que ocorre a coitarca, a primeira relação sexual.

O estudo sobre avaliação das práticas contracetivas em Portugal levado a cabo pela Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG) e Sociedade Portuguesa da Contraceção (SPDC) em 2015, teve por objetivo principal fazer um levantamento sobre as opções contracetivas das mulheres residentes em Portugal. A análise do grupo etário dos 15 aos 19 anos revelou que 28,8% das adolescentes têm actividade sexual, 95,3% das adolescentes sexualmente ativas usam um método contraceptivo, o preservativo masculino é o método mais utilizado na adolescência, seguida da pílula, e a utilização combinada de preservativo e pílula é de cerca de 24%.

As barreiras ao uso da contraceção são várias e incluem:

  • Preocupação com a confidencialidade: em Portugal, a Lei sobre educação sexual e planeamento familiar (Lei nº3/1984 de 24 de março) não menciona qualquer idade para efeitos de consentimento, qualquer menor pode dirigir-se a instituições com consulta de planeamento familiar e obter informação e métodos de contraceção.
  • Preocupações com custo: as consultas de planeamento familiar e os meios contracetivos disponibilizados por entidades públicas são gratuitos.
  • Mitos/perceções erradas: é importante desmistificar as ideias de que para iniciar contraceção hormonal é necessário exame físico prévio ou que esta reduz a fertilidade ou leva a ganho ponderal. Deve informar-se sobre benefícios no controlo do ciclo menstrual e queixas como dismenorreia ou cefaleias, esclarecer sobre contraindicações, efeitos adversos ou fatores que reduzem a eficácia contracetiva, como alterações gastrointestinais ou interações medicamentosas.

O aconselhamento é fundamental para uma boa adesão a um método contracetivo. As adolescentes devem ser informadas corretamente e de forma clara sobre os métodos disponíveis e devem fazer uma escolha livre e esclarecida.

Em geral, qualquer método considerado apropriado para adultos saudáveis, à exceção da esterilização, também é potencialmente apropriado para adolescentes saudáveis pós-puberdade. A apresentação dos métodos contracetivos a adolescentes sexualmente ativos deve descrevê-los por ordem de eficácia, segundo a American Academy of Pediatrics:

  • Long Acting Reversible Contraception (LARCs): Contraceção intrauterina, implante contracetivo subcutâneo, contraceção progestativa injetável.
  • CHC: Oral, adesivo transdérmico, anel vaginal.
  • Contraceção progestativa oral.
  • Barreira: preservativo (masculino ou feminino) ou espermicidas.
  • Outros métodos:
    • Métodos naturais/abstinência periódica.
    • Coito interrompido.
    • Calendário.
    • Muco cervical, temperatura basal.

Os métodos contracetivos mais frequentemente utilizados pelos adolescentes são métodos de curta-duração que apresentam baixa eficácia contracetiva. Deve promover-se os LARCs que apresentam menor taxa de falha (<1%), maior taxa de continuidade (>81% após 1 ano) e maior taxa de satisfação entre todos os métodos reversíveis.

Os adolescentes que escolham métodos que não LARC devem ser educados acerca da disponibilidade e indicação para uso de contraceção de emergência no caso de falha do método em curso.

A “dupla proteção”, ou seja, o uso simultâneo de um método contracetivo eficaz associado ao preservativo masculino (usado de forma correta e consistente) é a melhor forma de evitar a gravidez indesejada e as infeções sexualmente transmissíveis.

A remoção de barreiras através do aconselhamento, da informação e fornecimento de meios de contraceção parece associar-se ao aumento do uso de métodos mais eficazes e diminuição das taxas de gravidez indesejada, sem aumentar a frequência coital ou o número de parceiros sexuais.


Bibliografia e referências: