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Dor no doente queimado



A lesão por queimadura conduz a sofrimento físico e psicológico onde a dor é o componente. Major de ambos. A dor resultante destas lesões é considerada um dos estímulos álgicos mais intensos, diretamente relacionado com o tipo de queimadura, local da lesão e extensão de área queimada. Após a agressão inicial (fogo, químico, electricidade,.....) o doente é submetido a múltiplos tratamentos que, por si, agravam a dor inicial.

A sedoanalgesia, a anestesia geral e a sedação profunda, são métodos utilizados no controlo da dor no grande queimado, tanto no bloco operatório como nas Unidades de Queimados. As várias técnicas utilizadas, justificam a permanência de anestesiologistas nas Unidades de Queimados. A dor inicial apresenta um forte componente inflamatório, que ira condicionar a vertente nociceptiva da Dor no queimado. A sensibilização local esta diretamente ligada aos mediadores inflamatórios- bradicinina, prostaglandinas, citocinas, radicais livres de oxigénio, histamina e substância P.

Já a dor neuropática, por lesão das terminações nervosas periféricas, traduz o resultado das alterações permanentes dos nociceptores e respetivas vias álgicas. Este fenómeno chamado de “ neuroplasticidade periférica e central “, é o causador da Dor Crónica, que afecta 70% dos sobreviventes de grandes queimaduras e respetivas cirúrgias (desbridamentos, limpezas cirúrgicas, fasciotomias e enxertos).

O papel do Médico de Família, passará por identificar as características neuropáticas de um doente vítima de queimadura e que geralmente surge após a alta hospitalar. Tratando-se de uma Dor Crónica, geralmente surge de 3 a 6meses após a agressão e traduz-se em –picadas, choque elétrico, ardor e alterações da sensibilidade.

Sendo que as zonas dadoras de enxertos poderão manter componente álgico importante, por os algorreceptores se encontrarem intactos. Diferente é a sequela de queimadura de 3º grau, em que, a destruição dos recetores álgicos, provoca ausência de dor. Palavras como “alodinia”, “hiperestesia”, “hiperalgesia”, farão o dia a dia destes doentes, bem como o componente traumático psíquico/social , provocado pelo trauma e suas consequências. Os princípios terapêuticos, serão os da Dor neuropática com forte envolvimento psíquico:

  • Gabapentinóides: pregabalina/ gabapentina.
  • Antidepressivos: amitriptilina, duloxetina.
  • Opióides: tramadol, hidromorfona, oxicodona, tapentadol, morfina, fentanil, buprenorfina.
  • Ansioliticos: diazepam, alprazolam...

De salientar a importância da titulação dos vários fármacos, de modo a evitar os efeitos secundários e promover a adesão ao tratamento. A importância da terapêutica multimodal, poderá ser prolongada até ao alívio das queixas e melhoria da qualidade de vida.

A Medicina Física e Reabilitação, bem como o acompanhamento psicológico farão parte do dia a dia destes doentes. As unidades de dor Crónica têm um papel fundamental, tanto no diagnóstico como na orientação terapêutica da causa da dor.

A articulação com as Unidades de Cuidados de Saúde Primários é fundamental para o alívio dos doentes com este tipo de patologia.


Bibliografia e referências:

  1. Journal of Burn Care and Research “A descriptive Review of Neuropathic-Like Pain after Burn Injury” July/August 2006
  2. BURNS “ Treatment of post-burn neuropathic pain: Evaluation of pregabalin Vol 36 (September 2010)
  3. Norma DGS nº 022/2012 de 26/12/2012 atualizada em 10/11/2015- Abordagem do doente Queimado.