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Estudo Hygia: Medicação antihipertensora de dia ou de noite?


Dr. Daniel Caldeira | Cardiologia

Centro Hospitalar Lisboa Norte, Lisboa


O estudo Hygia Chronotherapy Trial foi publicado no European Heart Journal em 2019 e abriu a porta para uma hipótese que vem sendo falada desde há alguns anos e que diz respeita à cronoterapia, ou seja, se a altura do dia em que se toma a medicação anti-hipertensora tem impacto no controlo tensional e ou eventos cardiovasculares. O Hygia Chronotherapy Trial foi desenhado para avaliar o impacto clinico (e não exclusivamento do controlo tensional) da administração da terapêutica anti-hipertensora ao deitar versus ao acordar.

Trata-se de um ensaio clínico de grandes dimensões, desenvolvido em Espanha, com 19.084 individuos hipertensos aleatorizados para as intervenções numa razão 1:1. Durante um seguimento mediano de 6,3 anos, os investigadores verificaram um diminuição significativa do risco de eventos cardiovasculares (morte cardiovascular, enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência cardíaca ou revascularização coronária, HR 0,55; IC 95% 0,50–0,61).

As limitações destes resultados baseia-se em aspetos metodológicos, nomeadamente, no facto de se tratar de um ensaio clinico com desenho aberto (open-label), em que o investigador conhecia a terapêutica alocada a cada doente, e isso aumenta o risco de viés na classificação de resultados cuja natureza baseia-se em aspetos de interpretação ou de segurança do investigador/médico em relação à terapêutica alocada. Não obstante esse viés é improvável em resultados como a mortalidade em que se verificou resultados estatisticamente significativos. Um outro aspecto que dificulta a interpretação, mas não limita os resultados, é a translação na diferença de 1 mmHg na pressão arterial sistólica em MAPA de 48 horas ou 3 mmHg na pressão arterial sistólica nocturna nos resultados cardiovasculares observados.

A actuais guidelines da ESC/ESH recomendam a terapêutica farmacológica combinada, privilegiando regimes com associações fixas para melhoria da compliance terapêutica. Não recomendam uma altura do dia especifica para a toma dos fármacos anti-hipertensores pelo que fica uma porta aberta para esta hipótese, que deverá ser confirmada em ensaios clínicos subsequentes com maior dispersão geográfica, e com desenhos metodológicos associados a menor risco de viés (ocultação dupla ou tripla), e portanto mais robustos.


Bibliografia e referências: