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Mitos no tratamento da obstipação: os laxantes de contacto causam dependência?


Dr. Pedro Norton | Medicina do Trabalho

Centro Hospitalar São João, Porto


Os laxantes de contacto não causam dependência. Os fármacos que causam dependência atravessam a barreira hemato-encefálica e atuam no sistema nervoso central afetando localmente o sistema dopaminérgico1. A maioria dos laxantes de contacto não é absorvida e nenhum passa a barreira hemato-encefálica. Como tal não existe base farmacológica para causarem dependência2.

Geralmente são os doentes com distúrbios psiquiátricos que abusam dos laxantes, maioritariamente devido a uma crença errada de que os laxantes contribuem para a perda de peso3,4.

Quando tomados de acordo com a posologia correta os laxantes de contacto também não causam tolerância: um estudo retrospectivo em doentes paraplégicos (n=101) demonstrou que a toma a longo prazo [média 14,8 anos (2-34 anos)] de bisacodilo, (comprimido e supositórios) não causou habituação ou tolerância. Não houve necessidade de aumentar a dose, nem se registaram acontecimentos adversos graves5.

Um estudo de Bengtsson et al, demonstrou que a toma a longo prazo de picossulfato de sódio não causou tolerância (n= 35, média duração tratamento 10 anos, com alguns doentes a serem tratados durante mais de 20 anos): 50% dos doentes aumentaram moderadamente a dose (12 gotas) sem contudo ultrapassar a dose máxima recomendada6.

Num outro estudo em doentes hospitalizados (n= 80) também não se observou tolerância após a toma de picossulfato de sódio7.

Nestes dois últimos estudos, a dose foi reduzida em muitos doentes sem perda de eficácia e não se registaram alterações no equilíbrio electrolítico nem acontecimentos adversos graves.

Também não existe evidência que sugira o agravamento da obstipação (efeito “rebound”) em doentes que interrompam a toma de laxantes de contacto após a sua administração por períodos prolongados3.


Bibliografia e referências: