Inovações no diagnóstico e tratamento de infeções vulvovaginais
As infeções na vulva e vagina afetam muitas mulheres e são motivo de consulta frequente em Ginecologia. Durante o curso das suas vidas, aproximadamente 80% das mulheres terão pelo menos um episódio sintomático que causará desconforto e disrupção nas suas rotinas diárias. Essas infeções podem ter várias origens, incluindo desequilíbrios bacterianos, crescimento excessivo de fungos e outros fatores inflamatórios. A boa notícia é que avanços recentes no diagnóstico e tratamento dessas infeções têm melhorado a qualidade do atendimento às pacientes. Reconhecer e tratar casos de doença recorrente também tem proporcionado melhor qualidade de vida a muitas mulheres.
Diferentes infeções que afetam a vulva e vagina, sintomas e tratamento
Vaginose bacteriana (VB)
Sintomas: A VB frequentemente se manifesta com um corrimento branco-acinzentado com odor a peixe e prurido. No entanto, muitas pessoas com vaginose bacteriana podem permanecer assintomáticas.
Tratamento: Antibióticos são comumente prescritos para tratar o crescimento excessivo de bactérias nocivas. O tratamento de primeira linha é o metronidazol 500 mg oral 2x/dia durante 7 dias. Não sendo uma infeção sexualmente transmissível, os parceiros não precisam ser tratados.
Infeções por fungos (candidíase)
Sintomas: As infeções por fungos geralmente causam prurido, ardor e um corrimento vaginal espesso e branco. Algumas pessoas podem apresentar sinais inflamatórios marcados como o edema e eritema da vulva.
Tratamento: São utilizados medicamentos antifúngicos, disponíveis em forma tópica (clotrimazol) ou oral (fluconazol). Cerca de 8% das mulheres terão infecções recorrentes com a necessidade da toma de fluconazol semanal por, pelo menos, 6 meses.
Tricomoníase
Sintomas: Os sintomas incluem prurido, ardor e um corrimento arejado com odor a peixe. Algumas doentes podem sentir disúria ou dispareunia.
Tratamento: A tricomoníase é tratada com antibióticos, geralmente metronidazol (em posologia idêntica à vaginose) ou tinidazol (tratamento preferencial do parceiro).
Vaginite inflamatória descamativa (VID)
Sintomas: Esta condição é marcada por uma intensa sensação de ardor vaginal, edema e inflamação. As doentes podem também apresentar aumento do corrimento vaginal.
Tratamento: A vaginite descamativa inflamatória é tratada com clindamicina creme 2%, 5 g 1x/dia durante 14 dias.
Diagnóstico de infeções vulvovaginais
O diagnóstico oportuno e preciso da infeção específica é fundamental para um tratamento eficaz. Uma publicação recente da ISSVD (International Society for the Study of Vulvovaginal Disease) enfatiza que o tratamento empírico deve ser evitado a todo o custo e, como tal, exames laboratoriais passíveis de serem realizados em consulta devem ser aplicados: verificação do pH vaginal, mistura das secreções vaginais com KOH 10% (teste das aminas) e o exame microscópico do corrimento1. Recentemente, têm sido desenvolvidos testes moleculares e os testes diagnósticos "point-of-care" (que podem ser realizados no consultório ou no domicílio) que ajudam a identificar o agente causador e a orientar qual o tratamento mais apropriado. No entanto, ainda não estão amplamente disponíveis ou o custo é ainda bastante elevado. Ainda assim, os testes moleculares são a melhor opção no diagnóstico de vaginose bacteriana e tricomoníase.
Quanto à candidíase, o diagnóstico é cultural e especialmente importante no caso de doença recorrente para a confirmação que se trata da espécie mais comum de candida (albicans) e não uma espécie atípica resistente ao tratamento com os imidazóis habituais. O diagnóstico da VID é a microscopia a fresco e, talvez pela parca disponibilidade de microscópios em consulta, mantém-se uma doença subdiagnosticada.
Conclusão
Em conclusão, as inovações tanto no diagnóstico quanto no tratamento das infeções vulvovaginais têm alterado a forma como os profissionais de saúde abordam essas condições comuns. Com planos de tratamento personalizados, diagnósticos rápidos e um foco na prevenção da doença recorrente, as pacientes podem esperar resultados melhores e uma melhor qualidade de vida.
Bibliografia e referências:
- Vieira-Baptista P, Stockdale CK, Sobel J. Recommendations for the Diagnosis and Treatment of Vaginitis. International Society for the Study of Vulvovaginal Diseas. Lisboa: Admedic, 2023
- Revisão dos Consensos em Infecções Vulvovaginais 2012. Sociedade Portuguesa de Ginecologia, 2012.
- Jeng HS, Yan TR, Chen JY. Treating vaginitis with probiotics in non-pregnant females: A systematic review and meta-analysis. Exp Ther Med. 2020 Oct;20(4):3749-3765.
- Wang Z, He Y, Zheng Y. Probiotics for the Treatment of Bacterial Vaginosis: A Meta-Analysis. Int J Environ Res Public Health. 2019 Oct 12;16(20):3859.
- Chen X, Lu Y, Chen T, Li R. The Female Vaginal Microbiome in Health and Bacterial Vaginosis. Front Cell Infect Microbiol. 2021 Apr 7;11:631972. doi: 10.3389/fcimb.2021.631972.