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Qual o tratamento possível para a disfunção sexual persistente? e outras dúvidas sobre o tratamento da depressão


Dra. Céu Ferreira | Psiquiatria

Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde


Qual o tratamento possível para a disfunção sexual persistente?

Como não são totalmente conhecidos os mecanismos fisiopatológicos envolvidos na etiologia da disfunção sexual persistente, que está associada aos antidepressivos da classe dos SSRIs (inibidores seletivos da recaptação de serotonina) e dos SNRIs (inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina), não há ainda um tratamento eficaz formal. Várias terapêuticas farmacológicas e psicoterapêuticas foram avaliadas, mas sem sucesso.

Tendo em conta este aspecto, aquando da introdução de um antidepressivo, deve ponderar-se iniciar um fármaco alternativo aos das classes dos SSRIs e SNRIs, igualmente eficaz na depressão e que não se associe à disfunção sexual persistente, como o bupropiom e a vortioxetina.

Qual a prevalência da disfunção sexual persistente?

Não é ainda conhecida a prevalência da disfunção sexual persistente. Em Portugal, não há ainda nenhum caso publicado.

Pensa-se que cerca de 5-15% das pessoas medicadas com SSRIs e SNRIs possam desenvolver algum tipo de disfunção sexual persistente.

Insónia associada a luto, benzodiazepina?

Optaria por outros fármacos não benzodiazepínicos com propriedades hipnóticas e que não causam dependência, deixando a benzodiazepina para última linha.

Ponderar melatonina 2 mg, 1 cápsula cerca de 60 min antes de deitar, a trazodona 100 mg, meia ou 1 cápsula ao deitar, ou a mirtazapina 15, mg meia ou 1 ao deitar.

Em última linha (se alternativas anteriores ineficazes) ponderar introduzir benzodiazepina, nomeadamente o lorazepam 1mg ao deitar, evitando benzodiazepinas de semivida curta pelo maior risco de dependência, bem como benzodiazepinas de semivida longa pelo risco de sedação diurna.

Num idoso com quadro depressivo com perturbação do sono, em associação com períodos de desorientação/demência, que fármaco seria melhor opção?

Tendo em conta tratar-se de um doente idoso com depressão e perturbação do sono, a melhor opção seria a mirtazapina, que para além de efeito antidepressivo, é sedativa.

A mirtazapina deve ser tomada ao deitar.

Iniciar com mirtazapina 15 mg ao deitar, e reavaliar dentro de cerca de 4 semanas a necessidade de aumentar para 30 mg ao deitar.

Doente jovem obesa com Síndrome Depressiva medicada com SSRI, benzodiazepina em SOS e quetiapina. Qual a melhor opção caso a doente queira engravidar?

Tendo em conta a síndrome depressiva, optaria pela classe dos SSRIs: sertralina (começar com 50 mg e ponderar titulação para os 100 mg consoante a evolução clínica).

Se tivesse de prescrever uma benzodiazepina para a ansiedade ou insónia, optaria pelo lorazepam (começar com 1 mg), porque não tem metabolitos activos e é a benzodiazepina preferencial na gravidez e na amamentação.

Se tivesse de prescrever outra medicação hipnótica não benzodiazepínica, a quetiapina seria uma boa opção pelo baixo risco de complicações na gravidez (começar com 25 mg ao deitar).

Numa depressão grave, usa em primeira linha um SSRI ou a vortioxetina?

Quer os SSRIs, quer a vortioxetina, são antidepressivos eficazes na depressão grave, pelo que a respeito de eficácia antidepressiva, são comparáveis.

Segundo as guidelines internacionais, quer os SSRIs, quer a vortioxetina, são fármacos considerados de primeira linha para o tratamento da depressão grave.

No entanto, a vortioxetina tem muito menos interações farmacológicas e menos efeitos secundários que os SSRIs, nomeadamente a disfunção sexual.

Assim, numa depressão grave cujo tratamento antidepressivo será prolongado, optaria pela vortioxetina, iniciando com 10 mg no fim do pequeno almoço e reavaliaria dentro de cerca de 4 semanas, tendo em mente a titulação da vortioxetina para 15 mg/dia e muito provavelmente depois para 20 mg/dia (dose máxima).

A Vortioxetina tem estudos na grávida?

A vortioxetina é um antidepressivo mais recente, pelo que há ainda poucos estudos na gravidez. No entanto, as potenciais complicações parecem ser semelhantes aos SSRIs, nomeadamente a sertralina e o escitalopram (aborto espontâneo e parto pré-termo).

Qual o antidepressivo mais seguro na gravidez? Se tivermos de iniciar algum, qual devemos escolher?

Eu escolheria a sertralina, iniciando com 50 mg ao pequeno-almoço e ir titulando a dose de acordo com a evolução clínica, até aos 100 mg/dia.

Na gravidez privilegiar sempre a monoterapia e a dose mais baixa eficaz.

Pessoa que quer perder peso, mas não teve sucesso com fluoxetina, podemos usar outro antidepressivo e associar topiramato? Riscos?

Ter noção que os fármacos antidepressivos devem ser prescritos para o tratamento de perturbações depressivas, e não com o objectivo primário de perder peso numa pessoa que não tem diagnóstico de depressão.

Agora, se temos uma pessoa com depressão, e o peso já é uma questão importante (tem excesso de peso, obesidade…) é importante avaliar a função tiroideia, pois pode haver um hipotiroidismo a causar o ganho ponderal e a sintomatologia depressiva.

Numa depressão, se não houver sintomatologia ansiosa relevante, podemos começar por prescrever fluoxetina 20 mg e titular para os 40 mg/dia. Se a pessoa mantém sintomatologia depressiva (resposta parcial) podemos associar à fluoxetina o bupropiom 150 mg/dia (fármaco dopaminérgico activador).

Claro que, se coexistir sintomatologia ansiosa, quer a fluoxetina quer o bupropiom podem agravá-la, e por isso, não devem ser prescritos. Nem é recomendado associar benzodiazepinas para mitigar a ansiedade causada por fármacos antidepressivos activadores.

Não aconselho associar o topiramato para perda de peso. É utilizado como antiepiléptico, estabilizador do humor e no tratamento das cefaleias.

Pode associar-se a perda de peso, mas tem riscos importantes, nomeadamente as alterações cognitivas e a lentificação psicomotora, as parestesias e o risco de nefrolitíase.