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Recomendações da ISSVD para o diagnóstico e tratamento de infecções vaginais



As infeções vaginais são um motivo muito frequente de consulta de ginecologia. Numa recente publicação da ISSVD1 (International Society for the Study of Vulvovaginal Diseases) em Março/2023, foi revisto o diagnóstico e tratamento de vaginose bacteriana, candidíase, tricomoníase, vaginose citolítica e vaginite inflamatória descamativa.

Acerca do diagnóstico, é incentivado que se evite a abordagem sindrómica/empírica e que, ao invés, sejam usados meios laboratoriais de consultório, sempre que possível. Consistem em tiras de pH, hidróxido de potássio para realização de teste de aminas e exame a fresco do corrimento vaginal em microscópio.

Apesar da maioria das infeções estar associada a corrimento vaginal, a percepção de corrimento aumentado, sem outras queixas associadas (prurido, cheiro) não é necessariamente patológico nem deve levar a tratamento sem avaliação prévia.

Candidose vulvovaginal

A candidose vulvovaginal é uma infecção da vulva e vagina por um fungo (Candida spp). Contudo, este coloniza a vagina e faz parte da flora vaginal de mulheres “saudáveis”. Se presença de determinadas condições (diabetes mellitus mal controlada, antibioterapia recente, gravidez, imunossupressão), o fungo multiplica-se tornando-se patogénico e sintomático. A clínica habitual da infeção por Candida é típica e consiste no corrimento branco grumoso e prurido intenso. Nas mulheres com estas queixas fortemente sugestivas, a cultura de Candida pode não ser feita, mas deve ser realizada nos casos de recorrência ou falha do tratamento. No tratamento da candidíase recorrente, o recomendado é fluconazol oral 150 mg a cada 3 dias até 3 tomas, seguido de 150 mg semanal durante 6 meses.

Vaginose bacteriana

A vaginose bacteriana é a causa mais comum de corrimento vaginal anómalo. A aplicação de critérios de Amsel permite aumentar muito a acuidade diagnóstica em consulta. Consiste na visualização de corrimento cinzento arejado, pH > 4,5, teste de aminas (Whiff test) positivo e a presença de clue-cells na microscopia a fresco. A importância do correto diagnóstico e tratamento não se limita ao alívio sintomático da doente. A vaginose aumenta a probabilidade de aquisição de outras IST (infeções sexualmente transmissíveis) e pode complicar com doença inflamatória pélvica, uma situação com potencial de infertilidade futura ou dores pélvicas crónicas. Os tratamentos de primeira linha da vaginose bacteriana são o metronidazol (oral ou vaginal) e a clindamicina. Não sendo uma IST, o parceiro não deve ser tratado. As mulheres assintomáticas não necessitam de tratamento. Os probióticos administrados durante 1-3 meses podem diminuir as recorrências.

Tricomoníase

A tricomoníase é uma IST causada pelo parasita Tricomonas vaginalis. Os testes moleculares são o meio de diagnóstico gold-standard. Caracteriza-se pelo corrimento amarelo arejado, com cheiro fétido, sendo patognómico o “colo em morango”, visualizado no exame ao espéculo. O tratamento da tricomoníase é o metronidazol oral 400-500 mg 2x/dia, 7 dias. O parceiro deve ser também tratado com tinidazol (ou metronidazol) 2 g em toma única. A mulher deve realizar um teste molecular 3 semanas a 3 meses após o término do tratamento para confirmar a cura.

Apesar de altamente divulgados e comercializados, os probióticos não têm forte evidência da eficácia no tratamento ou como adjuvante na resolução das infeções vaginais. Não há consenso sobre a espécie apropriada, dose, formulação, via de administração ou duração do tratamento. Dado o alto custo de muitos desses produtos, é recomendada cautela ao prescrever e vigilância das pacientes para avaliar a eficácia.


Bibliografia e referências: