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i-SGLT2: evidência na insuficiência cardíaca


Dra. Joana Pimenta | Medicina Interna

Hospital CUF Descobertas, Lisboa


Os i-SGLT2 são uma classe de fármacos desenvolvidos no sentido de tratar a diabetes mellitus, pelo seu efeito hipoglicemiante. Sendo fármacos que, para além de reduzirem a glicemia, diminuem também a pressão arterial e o peso, têm um perfil atractivo para o tratamento dos muitos doentes diabéticos que apresentam concomitantemente excesso de peso e/ou hipertensão arterial.

Mas há um efeito desta classe de fármacos que não era antecipado e que emergiu apenas após a realização dos ensaios clínicos de segurança cardiovascular, requeridos pelas agências reguladoras do medicamento. Esse efeito foi a redução das hospitalizações por insuficiência cardíaca (IC), documentado nos referidos ensaios com a empagliflozina, canagliflozina, dapagliflozina e ertugliflozina em doentes diabéticos com alto risco de ou com doença cardiovascular aterosclerótica estabelecida.

Com base nestes resultados, foram desenhados ensaios clínicos dirigidos especificamente ao tratamento da IC, com fracção de ejecção reduzida e preservada.

Nos ensaios DAPA-HF e EMPEROR-reduced, com a dapagliflozina e empagliflozina respectivamemente, ficou estabelecido o papel dos i-SGLT2 como quarto pilar da terapêutica da IC com fracção de ejecção reduzida (menor ou igual a 40%), incorporado muito recentemente nas linhas de orientação da Sociedade Europeia de Cardiologia para o tratamento da IC, publicadas em Agosto de 2021. Estes fármacos mostraram reduzir a mortalidade cardiovascular e hospitalizações por IC, benefício sintomático e na qualidade de vida e preservação da função renal em doentes com IC com FE menor ou igual a 40% com e sem diabetes.

Já na IC com fracção de ejecção preservada, o papel dos i-SGLT2 está ainda em investigação. O primeiro grande ensaio clínico, EMPEROR-preserved com a empagliflozina, foi um marco na história do, até agora, largamente desapontador processo de procura de um tratamento eficaz dessa patologia. Foi documentada pela primeira vez e de forma inequívoca, a redução do endpoint de mortalidade cardiovascular e hospitalizações por IC em doentes com IC com FE superior a 40%, essencialmente à custa da redução das hospitalizações. Houve também benefício na capacidade funcional e qualidade de vida dos doentes. Estes parâmetros foram especificamente avaliados no também recente ensaio PRESERVED-HF com a dapagliflozina, tendo sido documentado benefício na capacidade funcional avaliada pela prova de marcha de 6 minutos e na qualidade de vida.

Temos, por isso, boas perspectivas de que os i-SGLT2 sejam a primeira classe de fármacos preconizada para o tratamento da IC com FE preservada. Os aguardados resultados do ensaio DELIVER com a dapagliflozina serão, sem dúvida, decisivos para ser dado esse passo.