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Particularidades das infeções vaginais na gravidez


Dra. Susana Costa | Ginecologia/Obstetrícia

Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia-Espinho


O microbioma vaginal difere nas várias fases da vida da mulher: pré-menarca, puberdade, gravidez, puerpério e menopausa. Nas mulheres grávidas, há um predomínio de lactobacilos e aumento do corrimento vaginal, mediado pelo hiperestrogenismo e congestão vaginal típicos desta fase, respetivamente.

Alguns estudos têm associado as infeções vaginais a risco aumentado de desfechos adversos na gravidez, como por exemplo, a associação entre vaginose bacteriana e parto pré-termo (PPT) ou abortamentos do primeiro trimestre. Contudo, o rastreio e tratamento de mulheres assintomáticas e sem fatores de risco não mostrou alterar os desfechos. Há ainda um estudo sobre o risco de PPT se colonização por C. albicans, mas os dados são insuficientes. De forma semelhante, parece haver associação da infeção por Trichomonas vaginalis com PPT, rotura prematura de membranas e fetos pequenos para a idade gestacional, embora não esteja provado que o rastreio e/ou tratamento de mulheres assintomáticas diminua estes riscos, pelo que a única indicação de rastreio de infeção por Trichomonas vaginalis é a infeção por HIV devido ao risco aumentado de transmissão vertical.

O tratamento varia consoante os agentes envolvidos na infeção vaginal. O tratamento da vaginose bacteriana em grávidas está apenas indicado se sintomatologia associada e pode ser realizado com metronidazol ou clindamicina, administrados por via oral ou vaginal, sem risco aumentado de complicações obstétricas e/ou fetais. Já o cloreto de dequalínio não parece ser embriotóxico (apesar dos dados serem limitados) e o tinidazol deve ser evitado na gravidez. O tratamento de grávidas sintomáticas ou com identificação de Trichomonas vaginalis pode ser realizado com metronidazol oral.

Importa salientar que a gravidez é considerada um fator de risco para candidose vulvovaginal, provavelmente pelo hiperestrogenismo associado como mencionado anteriormente e alterações no sistema imunitário. Além disso, é considerado um critério para candidose complicada, pelo que o tratamento deverá ser mais prolongado (deve ser preferido o tratamento tópico com antifúngico 7 a 14 dias). O ácido bórico não deve ser utilizado na gravidez, pela falta de dados de segurança. Já o fluconazol oral pode estar associado a complicações fetais ou da gravidez (transposição das grandes artérias, fenda palatina ou risco aumentado de abortamento), estando o seu uso contraindicado no primeiro trimestre.

O uso de probióticos não está recomendado nas infeções vaginais, quer nas mulheres grávidas como nas não grávidas.


Bibliografia e referências: