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Qual o papel das benzodiazepinas no tratamento da depressão?


Dra. Céu Ferreira | Psiquiatria

Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde


A depressão é uma doença psiquiátrica complexa cuja abordagem terapêutica deve ser sempre individualizada1.

O seu tratamento inclui intervenções psicológicas e farmacológicas, sendo que os medicamentos antidepressivos assumem um papel fundamental (Tabela 1).

Tabela 1: Principais fármacos antidepressivos utilizados na prática clínica no tratamento da depressão.
Classe/Mecanismos de acção Antidepressivos Doses Terapêuticas
Antagonistas da Serotonina 5HT2/Antagonistas dos Receptores Alfa-2 (NaSSa) Mirtazapina
Mianserina
15-45 mg
30-90 mg
Inibidores da Recaptação da Noradrenalina e da Dopamina (NDRIs) Bupropiom 150-300 mg
Antagonistas da Serotonina 5HT2/Agonistas MT1 e MT2    Agomelatina 25-50 mg
Antagonistas da Serotonina 5HT2/Inibidores da Recaptação da Serotonina (SARIs) Trazodona 150-300 mg
Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (SSRIs) Citalopram
Escitalopram
Fluoxetina
Fluvoxamina
Paroxetina
Sertralina
20-40 mg
10-20 mg
20-40 mg
50-100 mg
20-40 mg
50-100 mg
Inibidores da Recaptação da Serotonina/ Agonistas da Serotonina 5HT1A/ Agonistas parciais 5HT1B/Antagonista 5HT1D, 5HT3A, 5HT7   Vortioxetina 10-20 mg
Inibidores da Recaptação da Serotonina e da Noradrenalina (SNRIs) Duloxetina
Venlafaxina
30-60 mg
75-225 mg

Embora os antidepressivos da classe dos Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (SSRIs) sejam, de facto, os fármacos mais prescritos no tratamento da depressão, as guidelines internacionais preconizam também como tratamento de primeira linha outros antidepressivos igualmente eficazes: agomelatina, bupropiom, venlafaxina, duloxetina, mirtazapina e vortioxetina1.

Na clínica, é prática frequente a prescrição simultânea de uma benzodiazepina com o fármaco antidepressivo no tratamento das perturbações depressivas, sobretudo nas situações em que o paciente apresenta concomitantemente sintomas ansiosos ou perturbações do sono. O próprio tratamento com fármacos antidepressivos sobretudo os da classe dos SSRIs pode condicionar também alguma sintomatologia ansiosa na fase inicial do tratamento2,3.

No entanto, não são desprovidas de efeitos secundários, particularmente as alterações cognitivas, a sedação, o risco de quedas e acidentes. Adicionalmente, os fenómenos de tolerância, dependência e abuso são também aspetos relevantes a considerar4.

Os estudos internacionais referem que a utilização de benzodiazepinas tem papel limitado no tratamento da depressão e não é recomendada em monoterapia, embora possam ser prescritas como terapia adjuvante de curto prazo3. Ao contrário dos antidepressivos cujo tratamento deve ser realizado durante 6 a 9 meses1, o uso prolongado de benzodiazepinas em pacientes com depressão não apresenta evidência sustentada na literatura2,4.

Uma das grandes dificuldades na prática clínica é a descontinuação de benzodiazepinas que culmina com uma realidade preocupante associada ao facto de muitos pacientes se manterem medicados com benzodiazepinas a longo prazo2.

Assim, no caso das perturbações depressivas, a avaliação do risco-benefício de associar uma benzodiazepina deve ser cuidadosamente ponderada e caso a caso2.

Nas situações de depressão com sintomas ansiosos pode-se associar em SOS uma benzodiazepina com propriedades ansiolíticas (alprazolam, por exemplo) de forma a que o paciente recorra a este fármaco só em situações excepcionais e não diariamente.

No caso das perturbações do sono, se estas forem graves e/ou incapacitantes pode-se associar fármacos hipnóticos não benzodiazepínicos. Alternativas como melatonina, trazodona ou mirtazapina em doses baixas devem ser priorizadas, recorrendo apenas a benzodiazepinas como segunda linha de tratamento.



Bibliografia e referências: