Publicidade banner-canal-diabetes-en-la-red-pt

Tratamento com iSGLT2 e infeções micóticas: como abordar na prática clínica?



Os fármacos da classe dos inibidores do co-transportador tipo 2 de sódio-glicose (iSGLT2) têm adquirido crescente relevância na abordagem terapêutica dos doentes portadores de diabetes mellitus tipo 2 (DM2) atendendo aos benefícios da sua utilização que ultrapassam o efeito sobre o controlo glicémico, tornando-se fármacos modificadores de prognóstico cardiovascular e renal1,2.

É reconhecida transversalmente nos diversos estudos publicados, a associação comum entre a utilização de iSGLT2 e uma maior incidência (3 a 4 vezes superior) de infeções micóticas genitais (IMG). Ressalvam-se, no entanto, alguns fatores clínicos que podem condicionar este efeito adverso: doentes do sexo feminino, antecedentes de infeções micóticas genitais prévia e/ou recorrente (três ou mais infeções por ano), maior índice de massa corporal (especialmente em mulheres), uso recente de antibióticos ou diagnóstico de condição imunossupressora (farmacológica ou associada a infeção HIV). Concomitantemente, este efeito adverso parece ser ainda mais frequente nos primeiros 30 dias de utilização do fármaco e em doentes com controlo metabólico deficitário ad initium3,4.

Pelo contrário, verifica-se uma menor incidência deste tipo de intercorrência em diabéticos tipo 2 portadores de doença renal moderada, possivelmente pela atenuação da ação glicosúrica do fármaco associada a redução da taxa de filtração glomerular5.

Apesar da associação estar bem estabelecida, na maioria dos doentes, foram notificadas apenas infeções micóticas genitais de gravidade leve a moderada, com resolução completa do quadro seguindo as recomendações terapêuticas standard para o contexto e, raramente, conduziu à suspensão do fármaco em curso3,4,5,6.

A definição de um plano estratégico de prevenção é fulcral para doentes DM2 sob iSGLT2: otimização do controlo glicémico, promoção de alterações de estilo de vida com vista à perda ponderal, reforço de ingestão hídrica e educação para a promoção de higiene pessoal são assim os pilares de atuação.

Mesmo após implementação das medidas preventivas mencionadas, naqueles doentes que desenvolvem infeções micóticas genitais, os quadros de candidíase genital ou balanite não complicada são maioritariamente tratados com terapêutica antifúngica oral em dose única (com fluconazol 150mg) ou aplicação tópica em creme durante 1 a 3 dias (com clotrimazol) associado a reforço das medidas de higiene do doente, sem necessidade de suspensão do fármaco iSGLT2. Nos casos recorrentes, a indicação será para tratamento com fluconazol 150 mg uma vez por semana por um período de seis meses e ponderação individual da necessidade de rever terapêutica hipoglicemiante6,7,8,9.

Assim, preconiza-se que em doentes com critérios para utilização desta classe farmacológica, sejam revistos fatores clínicos de risco acrescido para infeções micóticas genitais de forma a identificar doentes que necessitam de monitorização mais estrita, bem como, reforçada educação no que se refere à higiene, ingestão hídrica e identificação de sinais e sintomas associados a este tipo de intercorrência infeciosa de forma a promover o contacto precoce com a equipa prestadora de cuidados.


Bibliografia e referências:

  1. American Diabetes Association; Diabetes Care 2020 Jan; 43 (Supplement 1): S66-S76.
  2. Recomendações Nacionais da SPD para o Tratamento da Hiperglicemia na Diabetes Tipo 2; Revista Portuguesa de Diabetes. 2018; 13 (4): 154-180
  3. Thong K, et. al. (2017). Clinical risk factors predicting genital fungal infections with sodium–glucose cotransporter 2 inhibitor treatment: The ABCD nationwide dapagliflozin audit. Primary Care Diabetes
  4. Centers for Disease Control and Prevention. Fungal diseases: candidiasis. Accessed May 24, 2020.
  5. Yale JF, et al. Efficacy and safety of canagliflozin in subjects with type 2 diabetes and chronic kidney disease. Diabetes Obes Metab 2013; 15: 463-73.
  6. Geerlings S, et al. Genital and urinary tract infections in diabetes: impact of pharmacologically-induced glucosuria. Diabetes Res Clin Pract 2014; 103: 373-81.
  7. Johnsson KM, et al. Vulvovaginitis and balanitis in patients with diabetes treated with dapagliflozin. J Diabetes Complications 2013; 27: 479-84.
  8. Nyirjesy P, et al. Genital mycotic infections with canagliflozin, a sodium glucose co-transporter 2 inhibitor, in patients with type 2 diabetes mellitus: a pooled analysis of clinical outcomes. Curr Med Res Opin 2014; 30: 1109-19.
  9. Engelhardt K, et al. Prevention and Management of Genital Mycotic Infections in the Setting of Sodium- Glucose Cotransporter 2 Inhibitors. Annals of Pharmacotherapy.