Classificação das mialgias
A dor muscular ou mialgia é um sintoma muito prevalente em consulta de Medicina Geral e Familiar. Estima-se que todas as pessoas terão ao longo da sua vida pelo menos um episódio de dor muscular. Na esmagadora maioria das situações estaremos perante um quadro clínico benigno e autolimitado, que não inspirará investigação adicional por exames complementares de diagnóstico, nomeadamente estudo imagiológico.
No entanto, é essencial descartar uma doença grave, antes de se afirmar que estaremos perante uma situação benigna. Para isso será necessário realizar uma história clínica cuidada.
A causas de mialgia são múltiplas. Podemos classificar de uma forma mais sistemática a mialgia como sendo loco-regional e difusa.
Dentro das causas loco-regionais destacam-se as mialgias relacionadas com esforço súbito, esforço repetitivo e desadequado e trauma. Destaca-se a lombalgia pós-esforço. Estas também serão as mais frequentes na prática clínica, não requerendo habitualmente investigação específica e sendo tratadas sintomaticamente recorrendo a AINE e/ou paracetamol. Deve ter-se o cuidado de alertar os doentes para evitar a imobilização total de forma à recuperação ser mais célere e de forma a evitar a evolução para a cronicidade. Deve o clínico pesquisar ativamente fatores de risco que possam contribuir para essa mesma cronicidade, como seja a presença de depressão, conflitos familiares/laborais, história de dor muscular recorrente, etc. Etiologias também frequentes, serão as síndromes miofasciais, como por exemplo a ligamentite ileo-lombar. Neste caso poderá requerer uma intervenção mais específica como seja uma infiltração local com corticosteroide e anestésico. As causas locais de mialgia que eventualmente serão graves são raras, como a piomiosite. As causas difusas podem categorizar-se em:
- Infeciosas
- Síndrome de dor não inflamatória difusa (ex.: fibromialgia)
- Doença reumática sistémica (por exemplo: lúpus eritematoso sistémico, vasculite sistémica, polimialgia reumática)
- Metabólicas (por exemplo: osteomalácia)
- Endócrinas (por exemplo: hipotiroidismo)
- Medicação (por exemplo: estatinas)
- Psiquiátricas (por exemplo: depressão)
Nos casos de queixas difusão será sempre necessário um estudo analítico para exclusão de doença orgânica.
O tratamento vai variar de acordo com a etiologia, podendo ser necessário referenciar para consulta de especialidade.
Bibliografia e referências:
- Shmerling, R. Approach to the patient with myalgia, Upto Date 31 Jul 2018.
- McFarlane, G et al. EULAR revised recommendations for the management of fibromyalgia. Ann Rheum Dis 2016.
- Dejaco, C. 2015 Recommendations for the management of polymyalgia rheumatica: a European League Against Rheumatism/American College of Rheumatology collaborative initiative, Ann Rheum Dis 2015.
- Stephanie G Wheeler et al. Evalutation of back pain in adults. UptoDate 25 Jun, 2019.
- Chou, Roger. Subacute and chronic low back pain: Nonpharmacologicand pharmacologic treatment. UptoDate 10 Jul 2020.