Novidades nas recomendações do uso de opióides no tratamento da dor
Perante os novos posicionamentos internacionais relativos ao uso de opióides no tratamento da dor, tentaremos retirar algumas conclusões.
Os opióides são frequentemente usados para o alívio da dor:
- Aguda;
- Crónica;
- Oncológica;
- Não Oncológica.
De alguma forma poderão ser considerados um “reforço” dos opióides endógenos-fisiológicos as endorfinas. O seu uso a curto ou a longo prazo, poderá estar associado a diversos eventos adversos: náuseas, vómitos, sonolência, depressão respiratória, bradicardia, hipotensão, tolerância e dependência.
Também pode ser desenvolvida uma situação chamada de Hiperalgesia induzida por opióides. Dor provocada por aumento excessivo da dose de opióides, na sequência de tentativa de controlo de situação álgica muito intensa. O resultado traduz-se em resistência à resposta álgica aos opióides, com agravamento da dor inicial e aparecimento de outro fenómeno álgico, traduzido por alodínia e hiperalgesia.
Com base nestas características positivas e negativas, as recomendações para o uso de opióides tentam visar o melhor efeito com o mínimo risco, salientando-se os seguintes pontos:
- Rigor na indicação, prescrição e monitorização de opióides, bem como no cumprimento terapêutico pelo doente e família.
- Identificação prévia de casos de abuso/dependência de substâncias ilícitas epsicofármacos, pelo doente e família.
- Titulação da dose mais eficaz, iniciando doses mais baixas de libertação prolongada com recurso a fórmulas de ação rápida devidamente tituladas, como medicação de resgate.
- Rotação de opióide quando houver suspeita de hiperalgesia, substituindo o opióide causal por outro, reduzindo a dose total diária do novo opióide, em 25 a 50% e se necessário, alterar a via de administração.
- Diferenciação de entidades clinicas com as quais a hiperalgesia se pode confundir, por exemplo: tolerância, pseudoadição ou progressão da doença.
- Os opióides frequentemente usados para a rotação dos mesmos incluem a buprenorfina, o fentanil, a metadona e a oxicodona. A justificação para a mudança de opióides baseia-se na variabilidade individual e nos diferentes níveis de tolerância expressa nos doentes com dor.
- O recurso à terapêutica multimodal, com o uso concomitante de gabapentinóides, relaxantes musculares, anti depressivos, etc. funciona como forma poupadora de opióides e facilita a diminuição temporária dos mesmos ou a sua remoção.
-
Em caso de descontrolo sintomático ou terapêutico ou de efeitos secundários, poderá ser necessário o internamento do doente para equilíbrio da situação álgica.
Bibliografia e referências:
- Roger Chou, Gilbert J. Fanciullo, Perry G. Fine, et al. Clinical Guidelines for the Use of Chronic Opioid Therapy in Chronic Noncancer Pain. February 2009Volume 10, Issue 2, Pages 113–130.e22.
- Caraceni A, Hanks G, Kaasa S, et al. Use of opioid analgesics in the treatment of cancer pain: evidence-based recommendations from the EAPC. Lancet Oncol. 2012 Feb;13(2):e58-68. doi: 10.1016/S1470-2045(12)70040-2.
- Benyamin R, Trescot AM, Datta S, Buenaventura R, Adlaka R, Sehgal N, Glaser SE, Vallejo R. Opioid complications and side effects. Pain Physician. 2008 Mar;11(2 Suppl):S105-20.
- Schug SA, Zech D, Grond S. Adverse effects of systemic opioid analgesics. Drug Saf. 1992 May-Jun;7(3):200-13.
- Yi P, Pryzbylkowski P. Opioid Induced Hyperalgesia. Pain Med. 2015 Oct;16 Suppl 1:S32-6. doi: 10.1111/pme.12914.
- Angst MS, Clark JD. Opioid-induced hyperalgesia: a qualitative systematic review. Anesthesiology. 2006 Mar;104(3):570-87.
- Velayudhan A, Bellingham G, Morley-Forster P. Opioid-induced hyperalgesia. Continuing Education in Anaesthesia Critical Care & Pain, Volume 14, Issue 3, June 2014, Pages 125–129, 26 September 2013.