Como é feita a gestão da lombalgia pela Medicina Geral e Familiar?
A dor lombar ou lombalgia é um problema de saúde extremamente comum, responsável por um grande impacto na saúde individual e também nos sistemas de saúde e sociais. Representa a principal causa de dor crónica no mundo industrializado, sendo também a principal causa de diminuição da idade útil laboral1.
Em Portugal, o estudo EpiReumaPt estima que a prevalência de lombalgia seja de 26,4%2.
Assim, é essencial dotar a Medicina Geral e Familiar (MGF) de ferramentas práticas que permitam uma melhor gestão do doente com esta patologia, tentando sempre que possível a sua resolução completa, e quando tal não se consegue, uma qualidade de vida que permita a manutenção da funcionalidade pessoal e profissional.
A lombalgia pode ser classificada de 3 formas:
- Lombalgia não específica/mecânica
- Lombalgia específica
- Dor radicular
Nos cuidados de saúde primários (CSP), a lombalgia não específica é de longe a mais frequente, representando cerca de 95-99% de todos os episódios. Em cerca de 10% das vezes pode ser acompanhada de dor radicular/ciatalgia, que em casos graves pode estar associada a descritores de dor neuropática, agravamento o prognóstico, e aumentado a probabilidade de evolução para lombalgia crónica3.
A lombalgia não específica/mecânica apresenta várias causas, sendo a síndrome miofascial uma das mais comuns, podendo ser a principal causa da dor, ou então surgir associada a outras causas, como escoliose, alterações degenerativas, etc. A dor associada à síndrome miofascial é uma dor de ritmo mecânico, agravamento muito com os movimentos exercidos pelos músculos afetados. Os utentes referem muitas vezes noção de “tensão” muscular associada, sendo encontrada frequentemente uma área dolorosa, tensa e endurecida, popularmente conhecida como “contratura”. A síndrome miofascial é tratada com medidas de relaxamento muscular, coadjuvada muitas vezes com mio relaxantes. Destes, a ciclobenzaprina é que apresenta melhor perfil de eficácia e segurança, promovendo relaxamento das fibras musculares sem interferir na sua função. Permite também uma melhoria do padrão de sono, muitas vezes afetado nestes doentes4.
Tal como referido anteriormente, a dor radicular é também relativamente comum nos CSP, e nas suas formas crónicas associa-se a descritores de dor neuropática como hiperalgesia, alodinia, queimadura ou “choque elétrico”. Quando estamos perante a presença de dor neuropática, o tratamento com pregabalina deverá ser ponderado, uma vez que este fármaco permite a melhoria gradual dos sintomas associados, potenciando melhoria clínica e funcional mais rápida5.
Bibliografia e referências:
- Hoy D, Bain C, Williams G, et al. A systematic review of the global prevalence of low back pain. Arthritis Rheum 2012;64: 2028-37
- Branco JC, Rodrigues AM, Gouveia N et al. Prevalence of rheumatic and musculoskeletal disease sand their impact on health related quality of life, physical function and mental health in Portugal: results from EpiReumaPt – a national health survey. RMD Open 2016;
- Oliveira CB, MaherCG, Pinto RZ, Traeger AC, Lin CWC, Chenot JF, et al. Clinical practice guidelines for the management of non-specific low back pain in primary care: an updated overview. EurSpine J.2018; 27(11): 2791–2803
- Giamberardino MA, Affaitati G, Fabrizio A, Costantini R. Myofascial pain syndromes and their evaluation. Best Pract Res Clin Rheumatol2011;25(02):185–198
- Wang Y, Yang H, Shen C, et al. Morphine and pregabalin in the treatment of neuropathic pain. Exp Ther Med 2017; 13:1393–7