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O que fazer quando utente apresenta outros sintomas além da lombalgia?


Dr. Tiago Meirinhos | Reumatologia

Centro Hospitalar do Baixo Vouga, Aveiro


De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças reumáticas e músculo-esqueléticas representam cerca da metade da prevalência de doenças crónicas em pessoais acima dos 50 anos.

Em Portugal, os números associados a algumas das mais de 150 doenças reumáticas e músculo-esqueléticas (DRM) são significativos, representando custos para o Estado acima dos mil milhões de euros.

De entre as várias doenças reumáticas, a lombalgia é a mais frequente, nomeadamente em países desenvolvidos, como no caso de Portugal. Tratando-se de uma queixa tão comum, é essencial a formação dos médicos de medicina geral e familiar e demais médicos para a sua correta abordagem, que permitem tratamento adequado e, portanto, um bom prognóstico.

Perante um doente que procura cuidados médicos por lombalgia, é essencial a exclusão de alguns sinais ou sintomas de causa urgente/emergente. Assim, doentes que concomitantemente à lombalgia apresentem febre, perda de peso involuntária, dor noturna, sintomas urológicos ou gastrointestinais de novo (incontinência de esfíncteres) ou sinais de compromisso neurológico agudo devem procurar serviços de urgência para avaliação complementar, nomeadamente com meios auxiliares de diagnóstico mais complexos (serológicos e de imagem).

Quando estamos perante um doente jovem, com lombalgia de caraterísticas inflamatórias (dor noturna, rigidez matinal superior a 30 min e alívio da dor com o movimento), com duração superior a 3 meses, a hipótese de sacroileíte deverá ser ponderada. A sacroileíte corresponde a inflamação das articulações sacroilíacas, e é muitas vezes provocada por uma doença do espectro das espondilartrites. As espondilartrites são doenças reumáticas inflamatórias que podem atingir o esqueleto axial ou periférico, e associar-se a manifestações extraarticulares como uveíte, psoríase, doença inflamatória intestinal entre outras.

De entre as espondilartrites, a espondilite anquilosante é uma das doenças mais conhecidas, e que, na maioria das situações tem início sob a forma de lombalgia inflamatória, associada a sacroileíte radiográfica ou não radiográfica (neste caso visível em RMN), podendo ainda apresentar alterações analíticas com elevação dos marcadores de fase aguda, nomeadamente proteína C reativa, e positividade para HLA B27. Perante um doente com suspeita de espondilartrite, este deverá ser referenciado para consulta de reumatologia, onde o diagnóstico será confirmado, e o tratamento será iniciado tão breve quanto possível, de forma a melhorar e otimizar o prognóstico, minimizando deformidades potencialmente irreversíveis.