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Como realizar o diagnóstico diferencial e tratar as raquialgias?



A prevalência das raquialgias foi estimada em 26% na população portuguesa, no maior estudo epidemiológico nacional de doenças reumáticas (EpiReuma.pt).

As raquialgias são uma das principais causas de recorrência aos cuidados de saúde primários e ao Serviço de Urgência Hospitalar. É também a razão mais comum de perda de produtividade, bem com um fator determinante de reformas antecipadas, com consequências socioeconómicas profundas.

Cerca de 90% dos casos de raquialgia estão relacionados com etiologias mecânicas, também designadas de não-específicas ou comuns, enquanto os restantes casos exigem uma intervenção dirigida e precoce, e podem ser identificados pela presença de sintomas de alarme (“red flags”).

Diagnóstico

O diagnóstico diferencial das raquialgias mecânicas é diverso, e incluí, por exemplo, a espondilartrose, a patologia discal degenerativa e herniária, a espondilolistese e a estenose canalar. A identificação e correção de fatores de risco modificáveis, nomeadamente a obesidade, o estilo de vida sedentário, o tabagismo, o esforço físico laboral, os levantamentos repetitivos, entre outros, é uma componente fundamental da estratégia de tratamento.

Adicionalmente, compreender e intervir em fatores que podem perpetuar a dor, como a depressão/ansiedade e a tendência para a catastrofização (“yellow flags”), pode contribuir para reduzir o impacto das raquialgias crónicas. É atualmente requerida e recomendada uma mudança de paradigma no tratamento da lombalgia crónica não específica. Esta mudança considera como primeira linha de tratamento a educação do doente. Por educação do doente entende-se assegurar que este compreende a etiologia benigna da dor, e a expectável evolução favorável, se foram implementadas medidas preventivas.

Tratamento

O exercício regular, baseado nos alongamentos e fortalecimento dos músculos e ligamentos axiais, a redução de peso nos doentes obesos, a evicção do tabaco, a manutenção de uma vida ativa, evitar o repouso prolongado, e o retorno precoce à atividade profissional, bem como a terapêutica cognitivo comportamental, devem ser recomendados. A segunda linha de tratamento inclui: anti-inflamatórios não esteroides (usados na menor dose eficaz e período mais curto possível, tendo em consideração comorbilidades), inibidores seletivos da receptação da serotonina e noradrenalina como a duloxetina, bem como os opioides nomeadamente o tramadol, em casos selecionados, e por curtos períodos de tempo, devido ao risco de uso excessivo. Os relaxantes musculares são também recomendados nas guidelines, em casos selecionados e por curtos períodos de tempo, mas existe necessidade de maior evidência no que respeita à sua utilização. Os ensaios iniciais na lombalgia com radiculopatia com gabapentina e topiramato mostraram pequenas melhorias na dor, embora os estudos sejam controversos e a evidência considerada ainda limitada incluindo para a pregabalina. Não obstante, os anticonvulsivantes são comumente prescritos para o controlo da dor neuropática e o racional para a sua prescrição nas radiculopatias é suportando pelo seu mecanismo de ação.

Globalmente, a evidência relativa às intervenções nas raquialgias, com ou sem radiculopatia, é ainda limitada e por vezes controversa, tornando as recomendações susceptíveis a atualizações frequentes. Parece, contudo, consensual a necessidade de serem implementadas estratégias de saúde pública que contribuam para minimizar o impacto das raquialgias na população portuguesa, com benefícios para o indivíduo e para a sociedade.