Depressão: escolha do antidepressivo
A depressão é uma das perturbações psiquiátricas mais frequentes na população adulta, com elevado impacto no funcionamento e quotidiano dos doentes. Uma abordagem sistematizada no tratamento da depressão deve incluir:
- Instituir factores promotores de saúde mental como boas práticas de higiene de sono, uma dieta saudável e a prática de exercício físico
- Abordar aspectos prejudiciais ou factores de risco modificáveis para doença mental como o uso de tóxicos, o uso de medicação com potencial de causar episódios depressivos, tratar outras doenças somáticas
- Implementar medidas que se mostrem relevantes como o aconselhamento, a intervenção psicológica de suporte, ativar as redes de apoio formais e informais dos doentes e a psicoeducação
No que concerne à escolha do tratamento dos episódios depressivos, este pode ser realizado com recurso a terapêutica farmacológica, intervenções psicológicas ou um plano de tratamento combinado (psicofarmacológico e psicoterapêutico). Em todas as situações, as opções terapêuticas devem ser discutidas com os doentes para que a decisão seja partilhada, se esclareçam as preocupações, receios ou mitos relativos ao tratamento; e para que se garanta a adesão. Devem avaliar-se episódios depressivos prévios e tratamentos utilizados, a sua eficácia e se levaram ao surgimento de sintomas laterais adversos. Aquando do início do tratamento farmacológico é importante explorar as expectativas face ao tratamento e informar os doentes sobre o período de tempo mínimo necessário para que se verifiquem melhorias no seu estado de humor. A necessidade de continuar o tratamento mesmo após a remissão parcial ou total dos sintomas deve ser enfatizada, de forma a evitarem-se términos abruptos e precoces do tratamento.
Quanto ao início do antidepressivo, o perfil terapêutico, tolerabilidade e eficácia de cada antidepressivo influenciam a sua escolha como primeira opção ajustada ao doente. Um importante estudo de 2018 relativo à eficácia e tolerabilidade de 21 antidepressivos para o tratamento agudo da depressão no adulto, destaca a vortioxetina, escitalopram e bupropion como fármacos com um bom perfil baseado nestes dois factores.
As 2020 Royal Australian and New Zealand College of Psychiatrists Guidelines destacam a escolha inicial do antidepressivo como um acto individualizado e ajustado ao perfil clínico do doente, propondo várias opções como primeira escolha.
Em conjunto com estes factores, a escolha do antidepressivo poderá também ser dirigida a determinadas queixas centrais ou proeminentes do doente, como se pode observar na seguinte tabela adaptada destas guidelines.
SINTOMA PROEMINENTE | ANTIDEPRESSIVO PREFERENCIAL |
Ansiedade | SSRI, SNRI |
Dificuldades Cognitivas | Duloxetina, Vortioxetina |
Perturbações do Sono | Agomelatina, Mirtazapina |
Fadiga | Bupropiom |
Dor | Duloxetina |
Sintomas melancólicos | Tricíclicos |
Sintomas Psicóticos | Adicionar antipsicótico |
Sintomas Atípicos | IMAOs |
A escolha do antidepressivo é um passo importante no tratamento dos doentes com depressão, devendo assim ser guiado pelo perfil clínico do doente, atendendo à melhor combinação entre este, a sua eficácia e a sua tolerabilidade.
Bibliografia e referências:
- Malhi GS, Bell E, Bassett D, Boyce P, Bryant R, Hazell P, et al. The 2020 Royal Australian and New Zealand College of Psychiatrists clinical practice guidelines for mood disorders. Aust N Z J Psychiatry. 2021 Jan;55(1):7-117
- Cipriani A, Furukawa TA, Salanti G, Chaimani A, Atkinson LZ, Ogawa Y, et al. Comparative efficacy and acceptability of 21 antidepressant drugs for the acute treatment of adults with major depressive disorder: a systematic review and network meta-analysis. Lancet. 2018 Apr 7;391(10128):1357-1366.
- National Institute for Health and Care Excellence. Depression in adults: treatment and management. NICE guideline [NG222]. 2022 Jun 29.