Disfunção sexual persistente associada a antidepressivos, uma nova entidade
Uma das manifestações clínicas da perturbação depressiva é a disfunção sexual e que pode incluir alteração nas várias fases da resposta sexual.
Paralelamente, há também antidepressivos que podem associar-se a disfunção sexual, nomeadamente os inibidores selectivos da recaptação da serotonina (SSRIs) e os inibidores da recaptação da serotonina e da noradrenalina (SNRIs).
Pensava-se que a disfunção sexual relacionada com os fármacos antidepressivos era dose dependente e reversível após a descontinuação do fármaco.
No entanto, tem emergido na comunidade científica internacional uma nova entidade clínica denominada de “Post-SSRI Sexual Dysfunction” (PSSD), relacionada com os antidepressivos da classe dos SSRIs, em que a disfunção sexual não é reversível com a suspensão do antidepressivo, permanecendo no tempo e causando elevado impacto negativo na qualidade de vida da pessoa1.
Embora os mecanismos fisiopatológicos não sejam ainda totalmente compreendidos, sabe-se que a PSSD é uma entidade clínica heterogénea e que pode incluir várias alterações do foro sexual: diminuição do desejo sexual, ausência ou diminuição do prazer do orgasmo, anestesia genital, disfunção erétil, perturbação de excitação genital persistente e síndrome dos genitais inquietos1.
De acordo com a informação disponível, a PSSD só deverá ser diagnosticada quando o doente reporta uma disfunção sexual que não estava presente antes de iniciar o tratamento antidepressivo com SSRIs e que persiste após a remissão da depressão e a descontinuação do fármaco SSRI, tendo-se também excluído outras comorbilidades que possam ser responsáveis por essa disfunção sexual1.
Em Junho de 2019, a Agência Europeia do Medicamento (EMA) reconheceu a validade da PSSD e abordou as empresas farmacêuticas para a atualização dos resumos das características dos fármacos das classes dos SSRIs e SNRIs desvenlafaxina, duloxetina, milnaciprano, venlafaxina, citalopram, escitalopram, fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina e sertralina, informando que a disfunção sexual secundária a estes fármacos pode persistir mesmo após a sua descontinuação, assumindo um padrão persistente1.
Esta recente entidade clínica formal alerta para novos efeitos secundários relacionados com os antidepressivos da classe dos SSRIs e a necessidade de ponderação de alternativas terapêuticas eficazes não relacionadas com a PSSD no tratamento das perturbações depressivas e de ansiedade.
A mirtazapina, a agomelatina e a vortioxetina são antidepressivos de primeira linha segundo as guidelines internacionais e que devem cada vez mais ser também considerados na prática clínica como opção no tratamento das perturbações depressivas com ou sem sintomas ansiosos, dado o seu baixo risco de disfunção sexual1,2.
Bibliografia e referências:
- Marinho CJ, Silva JD, Ferreira M do C. Persistent Sexual Dysfunction and Selective Serotonin Reuptake Inhibitors: Myth or Reality?.Gaz Med [Internet]. 2022 Sep. 1 [cited 2022 Nov.4];9(3):230-9.
- Kennedy SH, Lam RW, McIntyre RS, Tourjman SV, Bhat V, Blier P, et al. Canadian Network for Mood and Anxiety Treatments (CANMAT) 2016 Clinical Guidelines for the Management of Adults with Major Depressive Disorder: Section 3. Pharmacological Treatments. The Canadian Journal of Psychiatry. 2016;61(9):540-560. doi:10.1177/0706743716659417