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Devemos usar corticosteroides sistémicos no tratamento da lombalgia?


Dra. Maria João Salvador | Reumatologia

Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra


Os corticosteroides são uma classe de medicamentos que podem ter um potente efeito anti-inflamatório e imunossupressor. São muito eficazes e seguros, se bem utilizados. Para tal, é importante ter a certeza do diagnóstico antes de sua administração, bem como se há indicação para a sua utilização, pois quase todas as situações clínicas podem melhorar inicialmente com a toma de corticosteroides (até mesmo as infeções).

Na lombalgia eles têm sido utilizados de forma sistémica (oral, intravenosa ou intramuscular), em doses altas (60 a 80 mg/dia), em esquemas decrescentes geralmente de curta duração (15 dias).

Os ensaios clínicos nesta área com uso de corticosteroides sistémicos, têm-se focado mais na lombalgia aguda e na lombalgia com radiculopatia e os resultados são controversos. Apesar de ainda se usar largamente doses altas de corticosteroides em esquemas rapidamente decrescentes nestas situações, os ensaios não têm mostrado beneficio claro e consistente, nem no alívio da dor nem na melhoria da função. Revisões sistemáticas da literatura mais recentes mantêm esta posição, não aconselhando a utilização a corticosteroides sistémicos na lombalgia, com ou sem radiculopatia.

Qual o papel do exercício físico no tratamento da lombalgia?

O exercício é muitas vezes prescrito na lombalgia inespecífica, com intenção de melhorar a dor, a flexibilidade, a força muscular e a resistência. Este é particularmente recomendado na lombalgia subaguda e crónica. Além dos benefícios já descritos, o exercício ajuda a reduzir o stress, a ansiedade e a depressão. Na lombalgia aguda, a prática de exercício não parece ter beneficio, devendo, contudo, evitar-se a imobilização.

O tipo de exercício a praticar deve ser individualizado e adaptado, consoante a forma física do doente, as suas preferências, acessibilidade, custos, etc. Devemos alertar o doente para a possibilidade de agravamento da dor no início do programa, não devendo por isso parar de praticar exercício, pois com o tempo esta condição vai melhorando.

O exercício deve ser feito de forma regular e continuada. Pode haver benefício em orientar o doente para um programa de fisioterapia mais estruturado, principalmente se este estiver mais incapacitado ou descondicionado, ou com receio da mobilização.

Numa meta-análise de 2021 onde foram avaliados mais de 200 ensaios, conclui-se que todo tipo de exercício físico pode ser benéfico na lombalgia. Marcha, exercício aeróbico, exercício de estiramento, pilates, yoga, tai chi, etc. Os resultados serão ainda melhores se o exercício fizer parte de uma abordagem multidisciplinar, com utilização de terapia cognitivo/comportamental, educação do doente, entre outras abordagens.

Na lombalgia com radiculopatia, nas primeiras 2 a 3 semanas não se recomenda a realização de exercício físico ou de fisioterapia, sendo que depois deste período, os doentes com sintomas ligeiros ou moderados podem ser encaminhados para estas atividades.


Bibliografia e referências: