Disfunções sexuais no tratamento das pertubações psiquiátricas?
Surgem com frequência dúvidas na gestão de queixas sexuais, por exemplo diminuição da líbido e disfunção eréctil, que coexistem com uma perturbação psiquiátrica. Importa esclarecer que em muitas situações, mesmo em doentes já medicados, este tipo de sintomas pode decorrer e decorre muitas vezes da própria perturbação psiquiátrica em si, mais frequentemente uma perturbação de ansiedade ou uma perturbação depressiva, e já estavam presentes antes de qualquer introdução farmacológica e podiam não ter sido valorizados pelo médico e doente no início.
Quando o sintoma decorre da perturbação psiquiátrica pode melhorar com o tratamento adequado e isto deve ser esclarecido junto do doente, e devem ser privilegiadas opções farmacológicas, se indicadas, que tenham em conta esta preocupação.
Nas perturbações de ansiedade, a estratégia farmacológica inicial consiste muitas vezes na introdução de fármaco com capacidade de inibição da recaptação da serotonina (não necessariamente um SSRI) e de uma benzodiazepina transitoriamente, de forma a mitigar efeitos secundários no início do tratamento e o desconforto da própria psicopatologia até haver neuroadaptação e efeito terapêutico. Existem opções muito eficazes e com bom perfil de efeitos secundários sexuais, como é o caso da fluvoxamina (um SSRI), ou da trazodona (um SARI).
No caso das perturbações depressivas existem também fármacos muito eficazes, com bom perfil de efeitos secundários sexuais, como é o caso da vortioxetina, de ação multimodal, com inibição da recaptação da serotonina e bloqueio simultâneo de vários recetores serotoninérgicos eliminando efeitos secundários daí decorrentes na ausência desse bloqueio, e desfrenando circuitos dopaminérgicos e noradrenérgicos, com impacto favorável na função sexual.
Um outro fármaco que pode ser opção numa situação de disfunção sexual é o bupropiom, que além de protetor em termos de efeitos secundários sexuais, tem potencial isoladamente de melhorar esse tipo de queixa.