Estadio C0s da doença venosa crónica
Dra. Joana Ferreira | Angiologia e Cirurgia Vascular
Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real
A doença venosa crónica (DVC) define-se como um conjunto de sinais e sintomas resultantes da alteração da estrutura e função das veias. Do ponto de vista clínico e de acordo com a classificação CEAP, a DVC divide-se em 6 estadios que variam desde o estadio C0s ao C6, com gravidade crescente. O estadio C6 caracteriza-se por uma úlcera venosa ativa. O estadio C0s, define-se pela presença de sintomas típicos de DVC (sensação de perna cansada, pesada, edemaciada, cãibras, prurido), sem qualquer alteração no exame objetivo. O estadio C0s representa cerca de 20% da nossa atividade clínica, contudo nem sempre é reconhecido, quer pelos doentes, quer pelos médicos.
No estudo VEIN CONSULT Program, o estadio C0s foi bem definido. O VEIN CONSULT Program é um estudo de prevalência da DVC no qual participaram 70.000 doentes de 13 países. Este concluiu, que de todos os doentes em estadio C0s, os médicos apenas identificavam 21% dos casos. Contrariamente, no estadio C1 (telangiectasias e veias reticulares) os médicos identificavam 81% dos doentes, reforçando que a probabilidade de um médico diagnosticar DVC aumenta com a existência de alterações no exame objetivo. Neste sentido, também a probabilidade de um doente procurar o seu clínico aumenta com a gravidade da DVC. Assim, entre os doentes com estadio C0s só 15% procuraram o seu médico de forma espontânea, enquanto 80% dos doentes em estadio C6 recorreram ao seu médico por iniciativa própria. Os dados divulgados por esse estudo estão de acordo com a nossa prática clínica.
O estadio C0s tem enorme impacto na qualidade de vida. Assim, é importante iniciar medidas terapêuticas com o objetivo de aliviar os sintomas do doente. Essas medidas incluem fármacos venoativos, usa de meia elástica e um estilo de vida saudável. O FFPM (Fração Flavonóica Purificada Micronizada) tem um grau de evidência 1A no controlo dos sintomas da DVC. Do mesmo modo, a meia elástica e a prática regular de exercício físico contribuem para a melhoria da sintomatologia. Devemos, de igual modo, insistir em medidas higieno-dietéticas, como evitar a obesidade e estimular a prática de um estilo de vida saudável. Todas essas medidas podem contribuir para a prevenção da evolução da DVC.
Bibliografia e referências:
- Pitsch F. VEIN CONSULT Program: interim results from the first 70 000 screened patients in 13 countries. Phlebolymphology, 2012; 19(3), 132–137.
- De Maeseneer MG, Kakkos SK, Aherne T, Baekgaard N, Black S, Blomgren L, et al. Editor's Choice - European Society for Vascular Surgery (ESVS) 2022 Clinical Practice Guidelines on the Management of Chronic Venous Disease of the Lower Limbs. Eur J Vasc Endovasc Surg. 2022 Feb; 63(2): 184-267.
- Kakkos SK, Nicolaides AN. Efficacy of micronized purified flavonoid fraction (Daflon®) on improving individual symptoms, signs and quality of life in patients with chronic venous disease: a systematic review and meta-analysis of randomized double-blind placebo-controlled trials. Int Angiol. 2018 Apr; 37(2): 143-154.