Publicidade banner aap porto pt

Anticoagulantes orais não antagonistas da vitamina K: desafios na prática clínica


Dra. Natália António | Cardiologia

Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra


Os anticoagulantes orais não antagonistas da vitamina K (NOAC), também designados por anticoagulantes orais diretos (DOAC), são atualmente a terapêutica hipocoagulante de primeira linha na prevenção do acidente vascular cerebral (AVC) em doentes com fibrilhação auricular (FA)1. Os vários ensaios clínicos e subsequentes metanálises mostraram de forma consistente uma relação risco-benefício favorável aos NOACs relativamente ao comparador varfarina2,3,4,5,6.

Existem 4 NOACs em comercialização, com características farmacológicas distintas: apixabano, dabigatrano, edoxabano e rivaroxabano e sem ensaios clínicos de comparação frente a frente que indiquem superioridade de um em relação ao outro. No entanto, as características individuais de cada NOAC devem ser consideradas na escolha individualizada da terapêutica anticoagulante, tendo em conta variáveis como a função renal, o risco hemorrágico ou a medicação concomitante de cada doente.

Muito importante também é o conhecimento dos critérios de ajuste de dose, que são diferentes para cada NOAC7. Quando um doente recebe uma dose infra ou supraterapêutica de NOAC, não recebe o benefício esperado em termos de prevenção do tromboembolismo e/ou é exposto a um risco acrescido de reações adversas, nomeadamente hemorragia. Na prática clínica, cerca de 25-50% dos doentes recebe uma dose inadequada de NOAC8.

Apesar do aumento progressivo, ao longo da última década, do número de doentes com fibrilhação auricular que são hipocoagulados, os dados dos registos indicam-nos que uma proporção significativa de doentes com FA e CHA2DS2-VASc ≥ 1 continua a não receber a devida terapêutica antitrombótica9.

Os principais desafios na prática clínica, na utilização com NOACs são os seguintes:

  1. Aumentar a proporção de hipocoagulação nos doentes com fibrilhação auricular e CHA2DS2-VASc ≥ 1.
  2. Aumentar a taxa de hipocoagulação em doentes com fibrilhação auricular idosos, frágeis ou com demência, visto que nenhuma destas condições constitui contra-indicação à anticoagulação oral.
  3. Recordar que a aspirina não é uma terapêutica antitrombótica indicada na profilaxia do tromboembolismo associado à fibrilhação auricular.
  4. Conhecer os diferentes esquemas de ajuste posológico dos vários NOACs e utilizar a dose certa para cada doente.


Bibliografia e referências:

  1. Kirchhof P, Benussi S, Kotecha D, Ahlsson A, Atar D, Casadei B, et al. 2016 ESC Guidelines for the management of atrial fibrillation developed in collaboration with EACTS. Eur Heart J  2016;37(38):2893–962.
  2. Connolly SJ, Ezekowitz MD, Yusuf S, Eikelboom J, Oldgren J, Parekh A, et al. Dabigatran versus Warfarin in Patients with Atrial Fibrillation. N Engl J Med 2009;361(12):1139–51.
  3. Giugliano RP, Ruff CT, Braunwald E, Murphy SA, Wiviott SD, Halperin JL, et al. Edoxaban versus Warfarin in Patients with Atrial Fibrillation. N Engl J Med 2013;369(22):2093–104.
  4. Granger CB, Alexander JH, McMurray JJ V, Lopes RD, Hylek EM, Hanna M, et al. Apixaban versus Warfarin in Patients with Atrial Fibrillation. N Engl J Med 2011;365(11):981–92.
  5. Patel MR, Mahaffey KW, Garg J, Pan G, Singer DE, Hacke W, et al. Rivaroxaban versus Warfarin in Nonvalvular Atrial Fibrillation. N Engl J Med 2011;365(10):883–91.
  6. Ruff CT, Giugliano RP, Braunwald E, Hoffman EB, Deenadayalu N, Ezekowitz MD, et al. Comparison of the efficacy and safety of new oral anticoagulants with warfarin in patients with atrial fibrillation: a meta-analysis of randomised trials. Lancet  2014;383(9921):955–62.
  7. Steffel J, Verhamme P, Potpara TS, Albaladejo P, Antz M, Desteghe L, et al. The 2018 European Heart Rhythm Association Practical Guide on the use of non-vitamin K antagonist oral anticoagulants in patients with atrial fibrillation. Eur Heart J  2018;39(16):1330–93.
  8. Santos J, António N, Rocha M, Fortuna A. Impact of direct oral anticoagulants off-label doses on clinical outcomes of atrial fibrillation patients: a systematic review. Br J Clin Pharmacol 2019.
  9. Boriani G, Proietti M, Laroche C, Fauchier L, Marin F, Nabauer M, et al. Contemporary stroke prevention strategies in 11 096 European patients with atrial fibrillation: a report from the EURObservational Research Programme on Atrial Fibrillation (EORP-AF) Long-Term General Registry. Europace 2017;20(5):747–57.