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Dor nociceptiva, neuropática e central: diferenças e características dos distintos tipos de dor


Dr. João Lagoas Gomes | Reumatologia

Hospital Lusíadas Lisboa, Lisboa


A dor apresenta inequívocas vantagens em termos adaptativos, funciona como um valioso mensageiro que transporta para o nosso cérebro informação sobre o que se passa de errado com o nosso organismo. Se a dor aguda pode ser interpretada como uma dor boa, que nos deixa alerta para os perigos e nos leva a evitar eventos ou situações danosas para o nosso corpo, a dor crónica não parece conter qualquer vantagem ou aviso que nos permita adaptarmo-nos ao meio envolvente, causando precisamente o contrário: incapacidade, sofrimento e depressão. Não é, portanto, de estranhar que exista um grande interesse por parte da comunidade científica mundial em perceber melhor os mecanismos da dor e a forma como podemos lidar com ela no futuro1.

Em medicina e especialmente na reumatologia, a dor apresenta-se como um dos sintomas mais frequentes quando somos procurados por um doente, sendo portanto lógico que desde os primórdios da ciência se tenha tentado descortinar a origem da dor, o que a provoca, as suas consequências e o seu significado. Na perspetiva do clínico, as características da dor, como a intensidade, o seu carácter, a sua localização e a sua duração são um instrumento preponderante para a elaboração de um diagnóstico correto.

A dor pode ser classificada como nociceptiva, neuropática ou central. A dor nociceptiva, causada por ativação de nociceptores em resposta a diferentes estímulos, pode ser dividida em superficial e profunda, sendo esta última somática ou visceral. A dor somática superficial é iniciada por estimulação de nociceptores localizados em estruturas superficiais, como a pele, sendo uma dor bem localizada e bem definida.

A dor somática profunda é iniciada por estimulação de nociceptores localizados nos ligamentos, tendões, osso, vasos e músculo, sendo pouco localizada, mas de grande intensidade e agoniante2.

A dor visceral acontece por ativação de nociceptores localizados nos órgãos internos que são ativados em resposta a isquemia, estiramento e inflamação, sendo uma dor pouco localizada, difusa e é frequentemente sentida em áreas distantes da lesão, mais superficiais (dor referida).

A dor neuropática é causada por dano ou doenças que afetem o sistema somatossensitivo. Na maioria das vezes é descrita como em queimadura, choque elétrico, em facada ou como pins and needles.

Nos casos em que se desconhece a fenómeno causador da dor, como acontece na fibromialgia, no síndrome do intestino irritável e nos casos de somatização, parece existir um mecanismo comum mediado pelo sistema nervoso central, levando a um estado de hiperalgesia. Estes achados são corroborados por exames de neuro-imagiologia funcional e testes experimentais neurossensitivos3.

Não é, portanto, de estranhar que o tratamento da dor deve envolver estratégias terapêuticas que atuem sobre diversos mediadores simultaneamente, ou seja, com diferentes mecanismos de ação, de modo a melhorar a eficácia do tratamento analgésico.


Bibliografia e referências: