Dor nociceptiva, neuropática e central: diferenças e características dos distintos tipos de dor
A dor apresenta inequívocas vantagens em termos adaptativos, funciona como um valioso mensageiro que transporta para o nosso cérebro informação sobre o que se passa de errado com o nosso organismo. Se a dor aguda pode ser interpretada como uma dor boa, que nos deixa alerta para os perigos e nos leva a evitar eventos ou situações danosas para o nosso corpo, a dor crónica não parece conter qualquer vantagem ou aviso que nos permita adaptarmo-nos ao meio envolvente, causando precisamente o contrário: incapacidade, sofrimento e depressão. Não é, portanto, de estranhar que exista um grande interesse por parte da comunidade científica mundial em perceber melhor os mecanismos da dor e a forma como podemos lidar com ela no futuro1.
Em medicina e especialmente na reumatologia, a dor apresenta-se como um dos sintomas mais frequentes quando somos procurados por um doente, sendo portanto lógico que desde os primórdios da ciência se tenha tentado descortinar a origem da dor, o que a provoca, as suas consequências e o seu significado. Na perspetiva do clínico, as características da dor, como a intensidade, o seu carácter, a sua localização e a sua duração são um instrumento preponderante para a elaboração de um diagnóstico correto.
A dor pode ser classificada como nociceptiva, neuropática ou central. A dor nociceptiva, causada por ativação de nociceptores em resposta a diferentes estímulos, pode ser dividida em superficial e profunda, sendo esta última somática ou visceral. A dor somática superficial é iniciada por estimulação de nociceptores localizados em estruturas superficiais, como a pele, sendo uma dor bem localizada e bem definida.
A dor somática profunda é iniciada por estimulação de nociceptores localizados nos ligamentos, tendões, osso, vasos e músculo, sendo pouco localizada, mas de grande intensidade e agoniante2.
A dor visceral acontece por ativação de nociceptores localizados nos órgãos internos que são ativados em resposta a isquemia, estiramento e inflamação, sendo uma dor pouco localizada, difusa e é frequentemente sentida em áreas distantes da lesão, mais superficiais (dor referida).
A dor neuropática é causada por dano ou doenças que afetem o sistema somatossensitivo. Na maioria das vezes é descrita como em queimadura, choque elétrico, em facada ou como pins and needles.
Nos casos em que se desconhece a fenómeno causador da dor, como acontece na fibromialgia, no síndrome do intestino irritável e nos casos de somatização, parece existir um mecanismo comum mediado pelo sistema nervoso central, levando a um estado de hiperalgesia. Estes achados são corroborados por exames de neuro-imagiologia funcional e testes experimentais neurossensitivos3.
Não é, portanto, de estranhar que o tratamento da dor deve envolver estratégias terapêuticas que atuem sobre diversos mediadores simultaneamente, ou seja, com diferentes mecanismos de ação, de modo a melhorar a eficácia do tratamento analgésico.
Bibliografia e referências:
- Woolf CJ. Pain: moving from symptom control toward mechanism-specific pharmacologic management. Ann Intern Med 2004; 140:441.
- Phillips K1, Clauw DJ, Central pain mechanisms in chronic pain states--maybe it is all in their head. Best Pract Res Clin Rheumatol. 2011 Apr;25(2):141-154.
- Pain physiology, the basics, published online 1999, updated 2008.