O papel do cérebro na dor crónica
A dor não representa apenas o resultado da ativação do sistema nervoso nociceptivo por uma agressão, resulta acima de tudo de um fenómeno complexo onde o cérebro é o maestro.
A Neuroplasticidade Cerebral pode ser descrita como a facilitação da interpretação cerebral da dor, devida à existência de estímulos álgicos crónicos.
Traduz-se por um fenómeno de amplificação da dor/stress/sofrimento.
Os processos de regulação emocional parecem desempenhar um papel determinante no desenvolvimento da dor crónica, bem como alguns quadros psicopatológicos como: depressão, ansiedade e stress.
O papel do Psicólogo nas Unidades de Dor Crónica revela-se fundamental, não só pela capacidade de aplicação de Técnicas Cognitivo Comportamentais (TCC), como pela capacidade de promover junto dos pacientes, processos de regulação emocional que, indiretamente, ajudem a autocontrolar a perceção da Dor.
A Terapêutica Psicológica (TCC) resulta em:
a) Pequeno efeito benéfico nas avaliações de dor e incapacidade.
b) Efeito moderado sobre o humor.
Atualmente há unidades que praticam outras intervenções como: hipnose clínica, reiki, musicoterapia, não havendo ainda estudos biopsicofisiológicos completos que atestem a sua evidência científica. Ultimamente tem-se falado do papel do mindfullness no alívio dos doentes com dor crónica.
O Mindfullness é um processo de regulação emocional adaptativo. Tem as suas raízes nas tradições contemplativas orientais, nomeadamente na tradição Budista, e envolve o desenvolvimento da consciência experiencial do momento presente.
Definição: uma “consciência” não elaborativa, sem julgamento e centrada no presente, em que cada pensamento, sentimento ou sensação que surge no campo atencional é reconhecido e aceite tal como é:
- Observar.
- Descrever.
- Agir com consciência.
- Não julgar.
- Não reagir.
Fisiolologia:
- Alívio da sensação de dor através da: ativação do cortex orbitofrontal (COF).
- Activação do Cortex cingular anterior rostral (CCA).
- Insula Anterior (modulação do efeito afectivo da Dor).
- Desactivação do efeito Talâmico (bloqueio cognitivo).
Resultados:
- Melhor controle percepcional da dor.
- Melhoria dos sintomas depressivos e ansiosos.
- Interrupção da cadeia de pensamentos ruminativos sobre os estados emocionais de cada indivíduo, promovendo uma atitude de desapego e descontração, traduzida por melhor qualidade de vida e de valorização pessoal.
Conclusão:
- A Dor Crónica tem um impacto importante a nível físico, emocional e social, interferindo na qualidade de vida de quem a sente.
- A abordagem multimodal/multidisciplinar representa a terapêutica recomendada para estes pacientes.
- Sendo a terapêutica farmacológica limitada com efeitos secundários importantes e eficácia relativa, o controle da vertente psicológica surge de uma forma imperiosa e fundamental.
- As terapias cognitivo-comportamentais têm sido utilizadas, nem sempre com sucesso.
- A existência de outras alternativas que promovam o autocontrole e a autossugestão, em relação à sensação álgica, exigem uma melhor definição da caracterização dos mecanismos analgésicos específicos. Serão necessários mais estudos que os provem.
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