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O que é obstipação e como devemos tratar pacientes com este sintoma?


Dr. Pedro Norton | Medicina do Trabalho

Centro Hospitalar São João, Porto


Muitos doentes pensam erradamente que devem ter uma dejeção diária, caso contrário sofrerão de obstipação. De facto, a obstipação é definida pela presença de esforço defecatório, fezes granuladas, sensação de evacuação incompleta ou necessidade de 3 ou mais manobras manuais de evacuação por semana em pelo menos 25% dos movimentos intestinais, associados a menos de 3 evacuações por semana. Os fatores de risco mais importantes são a idade, a presença de co-morbilidades tais como a diabetes ou a ansiedade e a utilização de fármacos como opioídes, anti-inflamatórios e anti-depressores.

A obstipação não é por si só uma doença mas sim um sintoma. Na presença de sinais de alarme tais como perda de peso inexplicada ou perda de sangue nas fezes, o doente deve ser encaminhado para o seu médico assistente. Deve igualmente excluir-se a existência de causa iatrogénica e suspender-se, sempre que possível, o fármaco implicado.

O tratamento deve iniciar-se com medidas não farmacológicas nomeadamente pelo aumento da ingestão de fibras alimentares. Existe pouca evidência de que a ingestão de fluídos melhore a obstipação (excepto na presença de desidratação).

Quando estas medidas não são eficazes deve implementar-se um tratamento farmacológico. A escolha do laxante deve ter em linha de conta o seu mecanismo de acção, a previsibilidade do seu efeito e o perfil de segurança. Não há evidência científica segura que mostre diferenças significativas de eficácia entre laxantes. Os laxantes de contacto, como por exemplo o bisacodilo, são normalmente mais rápidos a actuar em relação aos incrementadores do volume fecal e aos laxantes osmóticos. Os laxantes de contacto não são absorvidos para a corrente sanguínea pelo que não chegam ao sistema nervoso central. Não existe portanto, qualquer base farmacológica para a dependência. Existem algumas situações específicas que tornam a escolha de determinados laxantes preferencial. Tal é o caso dos idosos em que os laxantes osmóticos (especialmente se acamados) são preferenciais em detrimento dos formadores de massa e as crianças em que o picossulfato de sódio pela sua comodidade posológica e possibilidade de utilização desde o nascimento, o torna o fármaco de eleição.