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Prevalência da rinite alérgica em Portugal


Dr. Celso Pereira | Imunoalergologia

Centro Hospitalar e Universitário Coimbra, Coimbra


A rinite é uma das patologias mais comuns no ambulatório em todos os países desenvolvidos, acompanhando o crescendo da expressão clínica de distúrbios alérgicos, dependentes de inúmeros factores epigenéticos, ambientais, estilos de vida, entre outros.

Em Portugal continental na população com idade superior a 16 anos a prevalência estimada de rinite foi de 26,1%, obtida com aplicação de inquérito ajustado e proporcional em utentes de Centros de Saúde, em todas as áreas abrangidas pelas 5 ARSs, com valores semelhantes nas distintas faixas etárias (menores de 25, 25-64 e igual ou superior a de 65 anos). As queixas de conjuntivite associavam-se em 70,4% destes doentes.

As maiores prevalências foram registadas no sexo feminino e relativamente à distribuição geográfica foi o Alentejo onde se obteve a taxa mais elevada e o Algarve a mais baixa. Dos utentes identificados com rinite, apenas cerca de um terço tinham um prévio diagnóstico ou tomaram medicação nos 12 meses anteriores.

Já na população pré-escolar (3-5 anos) a prevalência nacional foi estimada em 21,5%, sendo mais elevada nos concelhos urbanos. Já quanto à distribuição geográfica a região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) foi a que determinou a taxa mais elevada e o Alentejo a menor.

Os alergénios responsáveis pela etiologia alérgica variam consideravelmente na dependência das distintas regiões do território nacional e dentro deste com enormes assimetrias entre o interior e litoral. Estes dados foram previamente discriminados no estudo ibérico de sensibilização alérgica na rinite e em diferentes estudos nacionais. Globalmente, nas regiões insulares ocorre uma preponderância esmagadora na etiologia a ácaros e a polinose nas regiões do interior continental.

A região centro do país pela enorme heterogeneidade das condições climatéricas e das espécies botânicas predominantes vem a determinar enormes diferenças requerendo obrigatórios ajustes no âmbito diagnóstico, com painéis de alergénios nos testes cutâneos de alergia, ajustados a cada área geográfica da residência do doente. Genericamente, a polisensibilização a pólens de diferentes espécies é preponderante a leste do sistema Montejunto-Estrela e progressivamente vem a decrescer a polinose acompanhando-se de acréscimo de sensibilização a ácaros que se tornam preponderantes nos núcleos junto ao litoral.

Em Coimbra e nas áreas circundantes a sensibilização a ácaros das espécies Dermatophagoides predominam face à polinose, pelo que a maioria dos doentes com rinite alérgica tende a ter características perenes, em contraponto ao grupo de doentes com formas mais sazonais. A polissensibilização a pólens é menos frequente, sendo as espécies mais implicadas as gramíneas e a parietaria judaica (alfavaca-da-cobra).

O tratamento precoce e adequado da rinite é fundamental, não só para controlar sintomas, mas para minimizar o risco de associação com outras doenças atópicas, integradas no conceito da marcha atópica. Os anti-histamínicos sistémicos isoladamente não devem constituir a base do tratamento, uma vez que não têm eficácia no controlo inflamatório subjacente, mascaram sintomas permitindo a evolução da doença e o uso continuado determina frequentemente taquifilaxia. Na abordagem farmacológica da rinite a recente disponibilidade de um novo fármaco tópico associando corticoide/antihistamínico representou uma enorme avanço no controlo destes doentes. Porém, a imunoterapia específica constitui a estratégia imunomoduladora que modifica a história natural da doença, com ganhos indiscutíveis na qualidade de vida, nos scores de sintomas, na medicação e na minimização do risco de comorbilidades.